27/04/2007

Um Etíope em Jerusalém?

Esta é um questão relevante que se nos coloca ao lermos este texto. olhando para o judaísmo vemos que se trata de uma religião um pouco fechada e pouco voltada para a evangelização ad gentes. Lucas diz apenas que este homem era eunuco, com poder na corte e era simpatizante do monoteísmo e do povo de Deus, mas não prosélito. Encontramos então um homem que tinha uma relação pessoal com o Deus de Israel, pois o vemos atestado no texto ao dizer-nos que veio a Jerusalém para adorar a Deus. Ou seja, este eunico não ia de passagem mas vai a Jerusalém de propósito, vai em peregrinação. Estamos diante de um homem inquieto que procurava novas respostas para a sua vida. E contactando com as escrituras, nomeadamente os profetas, despertou para a fé. Uma fé que, pensava ele, era respondida e alimentada pelo judaísmo mas, depois de ouvir Filipe, tudo ficou mais claro, Jesus respondia à sua inquietação e por isso pediu o baptismo. A partir desse momento seguiu o seu caminho rumo à sua terra de Núbia. Santo Ireneu, no seu tratado contra as heresias considera este etíope como o primeiro missionário do continente africano.

25/04/2007

Paulo em Roma

Paulo, prisioneiro do Senhor, está em Roma e continua a anunciar o kerygma cristão: a Palavra de Deus, iniciada em Jerusalém, atingiu os extremos confins da terra, como Jesus tinha anunciado em Actos 1,8. A Igreja, formada por um pequeno grupo de hebreus, sob o guia do Espírito Santo chegou aos pagãos: foram superadas as polémicas, os interesses privados, as perseguições, a incredulidade, o choque com o paganismo e a cultura da época. Todo esse conjunto complexo é amalgamado e unido pela necessidade de anunciar a Boa-Nova, mesmo quando a Palavra não é acolhida.
É o empenho do anúncio de salvação de que “Jesus é o Senhor” a força motriz desse belíssimo livro de Lucas.

Paulo em Atenas – II (Actos 17, 15-21)

19-21: Paulo foi conduzido ao Areópago, que significa “colina de Ares”. Atenas era considerada a cidade mais culta do mundo pagão e a mais sedenta de novidades e fascinada pelas palavras. Lugar que tudo quer saber, conhecer e ser informada, mas que se esquece rapidamente o que foi apenas dito, para querer saber já as próximas novidades: v. 21 “Na verdade, tanto os atenienses como os estrangeiros residentes em Atenas não passavam o tempo noutra coisa, senão a dizer ou a escutar as últimas novidades”.
É diante deste público que Lucas considera incapaz de uma real e atenta escuta, e que Paulo incultura a mensagem cristã segundo as tradições culturais e religiosas do lugar: no v. 16 apesar de “o espírito fremia-lhe de indignação, ao ver a cidade repleta de ídolos”, reacção talvez devido ao primeiro mandamento que proibia fazer imagens de Deus, ele não age de modo indignado contra a cultura pagã, abraça tudo e procura clarificar com a luz do Espírito toda a realidade.

Paulo em Atenas - I (Actos 17, 15-21)

Por volta de 50 d.C. Atenas já vivia da tempo uma longa e “dourada” decadência. A cidade tinha somente cinco mil habitantes, enquanto que do ponto de vista cultural tinha sido superada por Alexandria, Antioquia e até mesmo pela cidade de Tarso. Mesmo assim, os monumentos e as antigas escolas filosóficas ainda activas em Atenas eram metas preferidas dos aristocratas romanos que queriam cumprir o grand tour da Grécia para conhecer melhor a filosofia e a cultura grega.

24/04/2007

Lucas - Os três relatos da visão de S. Paulo

Tendo escolhido Lucas como personagem a estudar – não é propriamente uma personagem secundária, mas no trabalho anterior identifiquei Lucas como Lúcio, nomeado uma única vez nos Actos – gostaria de analisar um ponto que me causa surpresa: Lucas relata por três vezes a visão de Paulo, em Act 9,4, Act 22,7 e Act 26,14. Ora, sendo Lucas o autor dos três textos, porque razão estes não são idênticos?
Em cada relato, Lucas acrescenta nova informação. Ora, pelo menos a partir de Act 16,10, Lucas é companheiro de Paulo e ouviu certamente da sua boca um só relato. Será um artifício literário para sublinhar a importância?
A descrição mais completa é a última: Act 26,14-18 Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua hebraica: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus a quem tu persegues. Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te, para lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a parte que lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim.‘

Interessante é a frase ‘É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ Estas palavras têm a ver com o trabalho rural. Há 50 anos, ainda se lavrava no Alentejo com arados puxados por 2, 4 ou 6 bois. Para “tocar” os bois usava-se uma vara, com argola e bico ou aguilhão de ferro na ponta. Os bois, acatavam a ordem (de virar, por exemplo), outras vezes revoltavam-se ou recalcitravam contra o aguilhão que os picava.
Assim, neste contexto, a frase significa que Paulo era acicatado pela sua consciência: isto é, a sua consciência acusava-o (ainda que sendo judeu) de proceder mal ao prender os cristãos, sendo calada por Paulo. Jesus fala pois da consciência iluminada pelo Bem, que, a meu conhecimento, é bastante ignorada pelos teólogos. Nos cursos de teologia da UCP só ouvi falar de consciência em Sto. Agostinho e como o interdito da sociologia. Creio que Jesus lhe dá aqui o fundamento teológico.

22/04/2007

1ª viagem missionária de Paulo 13, 1-14,28

Na igreja de Antioquia estavam celebrando o culto e o Espírito Santo escolhe o primeiro e o último da lista que apresenta Lucas, Barnabé e Saulo. Até aqui a figura de Banabé é mais importante que Saulo.
A partir do vers 9, Saulo está em Pafos, na Ásia menor. Daqui em diante Lucas passa a chamá-lo de Paulo, que se torna o protagonista da narração.
No primeiro discurso aos judeus de Antioquia de Pisidia, Paulo não encontra nenhuma resistência por parte desses, pelo contrário, é convidado a voltar e a repetir o discurso no sábado seguinte, e muitos dos judeus e prosélitos seguem a Barnabé e a Paulo.
Por que essa não resistência por parte dos judeus?
Já no sábado seguinte, a multidão presente faz com que os judeus se encham de inveja, e respondem com blasfémias o anúncio de Paulo e Barnabé.
Lucas coloca a palavra “desassombradamente” na resposta de Paulo e Barnabé aos judeus, a indicar que os dois não estão com nenhum receio ou medo dos judeus, dá a ideia clara de que estão possuídos pela força do Espírito Santo para anunciar a Boa-Nova. Diante da recusa dos judeus, dali em diante anunciarão a palavra de Deus aos pagãos.

Tentativa de resposta

O primeiro Pentecostes, 2, 1-13, vem do céu um som como uma forte rajada de vento que enche toda a casa onde se encontram os discípulos, é a descida do Espírito Santo em forma de fogo que se divide, poisando sobre cada um deles, e começam a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes inspira e os que ali acorreram, estrangeiros de outras línguas, o povo, ouviam os Apóstolos a pregar e entendiam o que eles diziam nas suas próprias línguas.
Sem dúvida uma descida do Espírito de forma grandiosa, teatral, fascinante.
Em 10, 44-48: não há o vento forte e o fogo que se divide sobre as pessoas presentes, enquanto Pedro ainda está falando eles ficam cheios do Espírito Santo e começam a falar línguas e a glorificar a Deus. Aqui essas línguas não são compreendidas, mas é o dom da glossolalia, necessitando de um dom de interpretação.
Sem dúvida também um facto extraordinário, mas menos imponente. Não deixa de ser, porém, uma segunda Pentecostes. Pedro reconhece a grandiosidade do acontecimento e “ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo”.
São dois factos em que o Espírito é dado de forma extraordinária, ou seja, não acontece sempre. Receber o Espírito Santo pelo baptismo é a forma, digamos, “normal”, mais simples, silenciosa onde o Espírito começa a sua inabitação na alma do crente, é a forma que de agora em diante o Espírito vai descer sobre a comunidade, por isso Pedro insiste em reafirmar o baptismo pela água em nome de Jesus.
Mas o Espírito Santo, afinal, dá-se livremente, como quer. Ou vem enquanto alguém prega, ou com o baptismo pela água, ou pela imposição das mãos.