06/04/2007

Um eunuco Etíope?




No contexto da Evangelização da Samaria, expansão da Igreja fora de Jerusalém, Filipe é interpelado por um anjo para ir em direcção a Gaza. Neste trilho encontra um eunuco, um africano importante da corte da rainha Candace da Etiópia. Etiópia não seria o que hoje é, mas um vasto território que em Grego se denominava assim, isto é, o país dos “caras queimadas”. Assim os europeus antigos que falavam grego chamavam “Etiópia” ao conjunto dos países onde moravam negros, sem distinguir reinos nem países. Portanto, este nosso eunuco provavelmente seria de Núbia do sul do Egipto e Sudão. Núbia tinha Meroé como capital. Esta é a mais antiga cidade na margem leste do rio Nilo. È-nos permitido afirmar tal coisa porque segundo o relato este eunuco era administrador da Rainha Candace, e atendendo a alguns documentos antigos este título aparece referido apenas às rainhas de Núbia, que exerciam efectivamente um poder político supremo. Alguns autores denominam o nosso personagem como o peregrino de Núbia. Assim, tudo indica que este eunuco seria do território de Núbia, um dos constituintes do agregado de reinos e países que formavam a "Etiópia".

05/04/2007

Caro sr.Professor e caros Colegas!

Mais de uma semana que estou na Polonia, pois precisava de renovar um pouco a minha fe e matar saudades...
Desejo-vos a todos (e a mim tambem) uma Pascoa profundamente vivida. Que ao viver este misterio pascoal cada um aprende ser misericordioso, humilde e grato.
Aqui, na noite de sabado para domingo, depois da Missa de Ressurreicao, os fieis regressam para as suas casas com uma vela asceza e aos todos que encontram no caminho tem de dizer : Jesus esta vivo! e eles tem de responder: verdadeiramente esta vivo! Isto faz-me lembrar os Apostolos, pois imagino que esta mensagem foi passada de boca para boca numa maneira parecida.
Embora seja um pouco adiantada mas esta mensagem e para voces caros amigos, e para mim tambem: JESUS ESTA VIVO!!!
Boa Pascoa para voces!
-Marta

04/04/2007

Significado dos nomes

Ananias é um nome grego, cuja tradução em hebraico Hananiah significa «Yahweh é bondoso/piedoso».

«Estou aqui, Senhor!»

Um olhar 9,1-19a

Ananias tem uma visão.
O Senhor chama-o pelo seu nome, sinal de conhecimento, de intimidade, de proximidade. Ananias responde «Estou aqui, Senhor»!». Esta resposta soa a algo familiar, pois é típica no AT e transmite ao mesmo tempo simplicidade na presença que escuta e prontidão de obediência quase militante. Em seguida o Senhor revela-lhe detalhadamente o que tem que fazer. Os pormenores vão desde a rua que tem que seguir para encontrar a casa para onde tem que se dirigir, à especificação da origem de Saulo (nome hebreu) até à oração que este realiza, onde constam os actos que o Senhor quer que Ananias realize. A indicação de que Saulo está a orar serve para tranquilizar Ananias, demonstrando-lhe que está realmente numa situação de necessidade e que, portanto, se pode aproximar sem receios. Ananias conhece Saulo, a sua fama de perseguidor implacável chegou até ele (provavelmente através de muitos que fugiram de Jerusalém devido às perseguições) por isso revela-se renitente em cumprir o que o Senhor lhe pede. No entanto, a sua objecção é ultrapassada pelas palavras do Senhor de que essa é a sua vontade. O relato avança rápido… Ananias parte, chega junto de Saulo, impõe-lhe as mãos e transmite o que Jesus lhe pediu. O gesto da imposição das mãos de Ananias sob Saulo é um gesto de bênção, que significa uma cura. A referência a Jesus, apenas neste momento da cura, é muito importante, pois é uma identificação com Aquele que apareceu a Paulo na estrada de Damasco. E em seguida baptiza-o.
O gesto de Ananias não é algo isolado, individual, porém num só homem vem representada a comunidade, a sua confirmação acerca da salvação e vocação de Saulo.

03/04/2007

Protagonismo: uma questão dinâmica

Procurámos, de uma visão estatística e estática relativamente à aferição do protagonismo duma personagem no seio da narrativa (de acordo com a clássica noção de que, num combate, um dos polemistas se sobreleva como primaz), passar a outra, dinâmica, pela constatação de que na trama literária como na vital o protagonismo não emerge como uma bandeira que se agita vitoriosamente, mas como propriedade da pessoa (mesmo que tão só nos humores da máscara), pois que todos somos simultaneamente protagonistas (do fôlego que nos cabe) e espectadores.



No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bells tolls; it tolls for thee.”



John Donne, Meditation XVII

Um tão profuso elenco (de expectantes protagonistas) como aquele que Actos nos apresenta indicia desde logo uma dúplice afirmação: a) cada aparição, por fugaz que seja, no deslizar sucessivo de rostos e vidas, denuncia a força d’Aquela Aparição que a todos convoca para o protagonismo existencial; b) assim, nesse protagonismo (subtil ou despudorado) ecoa iconograficamente Aqueloutro, Maiúsculo.
Feitas estas considerações iniciais, passaremos, finalmente, à (breve) análise de uma personagem de Actos: João, apóstolo (enquanto figura ilustrativa desse estatuto paradoxal de primazia na discrição).

O CARCEREIRO SEM NOME (Ac 16, 23-40)

Em Filipos, aquando da segunda viagem missionária, Paulo liberta uma jovem serva de um espírito de adivinhação. Os seus senhores, indignados por se sentirem economicamente lesados, levam-nos perante as autoridades da cidade, que os arremessam, sem mais, para a prisão. O episódio introduz, então, a nossa personagem: o carcereiro sem nome que vigia os dois missionários.
É a meio da noite, estando Paulo e Silas em oração e os restantes prisioneiros à escuta, que ocorre um tremor de terra que provoca a abertura das portas das celas e o desprendimento das correntes. O carcereiro acorda em sobressalto e julgando que todos se tinham evadido tenta suicidar-se. Paulo impede-o e o homem fica aterrado com o sucedido e lança-se aos pés dos dois cristãos.
Entretanto, é natural que toda a casa tivesse acordado e que os familiares do carcereiro corressem ao andar de baixo ver o que se passava.
Já fora do cubículo da prisão, o pobre homem pergunta: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» e eles respondem «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.»
E, de facto, ele e os seus escutando a Palavra do Senhor são baptizados e levam para o espaço privado da sua casa os dois apóstolos de Cristo.