02/06/2007
A palavra "Fé em I Pedro e o conceito "Paroikos"
A 1ª Carta de Pedro e o Dia do Juízo Final

1. Este termo e seus derivados surgem 6 vezes na 1ª Carta de Pedro. Apesar das poucas vezes que ocorre, é atribuído ao anúncio do Juízo uma grande importância: Deus fixou um Dia para julgar o universo com justiça por meio de Cristo que Ele ressuscitou dos mortos (1Pe 4,5).
2. A eminência do Juízo dita o comportamento que convém ter, pois o julgamento começa na casa de Deus (vimos nas aulas a importância do termo Casa – oikos; define, pois, a comunidade cristã como verdadeiro templo da Nova Aliança, consagrado pela inabitação do Espírito Santo, que vem substituir o Templo de Jerusalém) antes de se estender aos ímpios (1Pe 4,17).
3. O Dia do Julgamento e seu desfecho têm como critério essencial acreditar no Evangelho de Deus. Se o justo dificilmente se salva, qual será a sorte do ímpio e pecador (4,18)?
4. Também se afirma claramente que cada um será julgado segundo as suas próprias obras, sem fazer acepção de pessoas (1Pe 1,17) e sem esquecer que o critério fundamental é acreditar no Evangelho, acreditar na Palavra, testemunha viva de Cristo.
5. Na 1ª de Pedro assistimos também a um convite insistente ao temor de Deus como forma de prevenção para o Dia do Julgamento, no qual todos serão julgados segundo os seus actos (1,17; 2,17).
6. Em 1Pe 4,6 encontramos também uma importante distinção entre o juízo dos homens e o juízo de Deus: o primeiro é associado à vida corporal e o segundo à vida espiritual, que cada cristão é chamado a viver. Efectivamente, é o juízo de Deus que deve estar no horizonte do cristão, pois só Ele tem o poder para julgar os vivos e os mortos (1Pe 4,5).
Por tudo isto pode concluir-se que o tema do Julgamento escatológico está no horizonte da 1º Carta de Pedro, pautando o agir da comunidade nascente. É para o Dia do Julgamento que o cristão se deve preparar e orientar a sua vida, pois dele depende a Salvação. Acreditar no Evangelho, na Palavra, é o meio privilegiado para preparar esse Dia!
01/06/2007
A submissão de Jesus á sua Mãe e ao seu pai legal foi o cumprimento perfeito do quarto mandamento. É a imagem temporal da sua obediência filial ao Pai celeste. A submissão diária de Jesus a José e a Maria anunciava a antecipava a submissão de Quinta-feira Santa: « Não se faça a minha vontade[…] A obediência de Cristo no dia, dia da vida oculta, inaugurava já a recuperação daquilo que a desobediência de Adão tinha destruído.
Jesus Cristo Nosso Senhor, Nosso Rei, obedeceu ao Pai, e foi levado como manso cordeiro á morte na Cruz.
Como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornaram justos ( Rom 5,19 ). Pela sua obediência até a morte, Jesus realizou a acção substitutiva do Servo Sofredor, que oferece a sua vida como sacríficio de expiação, ao carregar com o pecado das multidões, justifica carregando Ele próprio com as suas faltas.
Como por sua obediência Jesus Cristo o Senhor se revestiu de todo o poder no céu e na terra, Ele tem direito á obediência de toda criatura.
É por Ele, pela obediência ao seu Evangelho e a palavra de sua Igreja que o homem atinge a Deus na fé que escapa á desobediência original e entra no Mistério da Salvação; Jesus Cristo é a única lei do cristão. Esta lei inclui também a obediência ás autoridades humanas legítimas, pais, senhores, esposos, poderes públicos, reconhecendo em toda a parte a autoridade de Deus.
Mas nunca obedecer senão para servir a Deus, o Cristão é capaz de, se preciso, enfrentar uma ordem injusta e obedecer a Deus antes que aos homens.
Julgamento (Parte II - Uso no AT)
Atendendo à raízes spt e mispat verifica-se um conjunto muito diverso de significados possíveis para crinein. Contudo, a ideia fundadora, comum a todo o povo semita, é a de que Deus é o verdadeiro juiz. Isto justifica o facto de a relação com Deus no AT ser concebida em termos vincadamente jurídicos. Soberano e juiz, Deus apropriou-se do seu povo ao estabelecer uma berit (aliança) com ele; deste modo o julgamento de Deus pertence e tem sempre como horizonte a Aliança estabelecida com Deus e é elemento indispensável para obter a salvação.
No interior do AT o julgamento de Deus toma várias tonalidades. Aparecendo como um acto quase exclusivamente jurídico e próprio de uma relação causa-efeito própria da lei da retribuição provocado pela realidade do pecado que afecta a todo o homem, o conceito adquirirá, sobretudo com os Profetas, o significado de Graça e de Misericórdia. Entendido o povo de Deus (o resto de Israel) como um povo oprimido, o julgamento de Deus chega a corresponder ao conceito de amar, pois Deus faz justiça aos indefesos através da justiça divina (Dt 10,18).
Entendido o conceito no seu sentido mais lato, o acto e realidade do julgamento tornou-se a definição abreviada da Revelação de Deus, que constitui o fundamento da relação de Deus seja com o seu povo, seja com todo o homem concreto.
Bem vs Mal, pela positiva!
Bem vs Mal
Vou apenas dar alguns exemplos desta oposição que procura uma definição:
«Por isso, com prontidão de espírito, sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança na graça que vos será trazida por ocasião da Revelação de Jesus Cristo [vs] como filhos obedientes não consintais em modelar vossa vida de acordo com as paixões de outrora, do tempo da vossa ignorância»1,13-14.
«Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis […] que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, [vs] mas por sangue precioso, como de cordeiro sem defeitos e sem mácula de Cristo […]»1,18-19.
«Fostes regenerados, não de uma semente corruptível [vs], mas incorruptível, mediante a Palavra viva de Deus, a qual permanece para sempre»1,23.
«Amados, exorto-vos, como a estrangeiros e viajantes neste mundo, a que vos abstenhais dos desejos carnais que promovem guerra contra a alma. [vs] Seja bom o vosso comportamento entre os gentios[…]»2,11-12
«Afaste-se do mal e pratique o bem»
Primeiramente vamos analisar de que forma o autor usa directamente o binómio bem - mal. Este exorta os cristãos para que permaneçam firmes no bem e se abstenham do mal: «afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz e siga-a.»3,11. Pois a vontade de Deus é que pratiquem o bem e que sejam por ele reconhecidos: «seja bom vosso comportamento entre os gentios, para que, mesmo que falem mal de vós, como se fosseis malfeitores, vendo as vossas boas obras, glorifiquem a Deus, no dia da sua visita»2,12; «pois esta é a vontade de Deus, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos insensatos»2,15. Uma vez que «será melhor que sofrais – se esta é a vontade de Deus – por praticardes o bem do que praticando o mal»3,17.
O mal é, portanto, contrário à vontade de Deus: «porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e seus ouvidos estão atentos à sua prece, mas o rosto de Senhor se volta contra os que praticam o mal»3,12, logo «não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria; ao contrário bendizei, porque para isso fostes chamados, isto é, para seres herdeiros da benção»3,9.
Este binómio ilumina o todo da carta na medida em que explicita que a exortação se realiza num movimento paralelo que permite tanto que os cristãos se identifiquem com o bem como se distanciem do mal que os rodeia e alicia socialmente.
Que glória há?
O binómio bem – mal ajuda-nos a compreender o ritmo através do qual o autor vai delimitando o caminho que os cristãos devem seguir, um caminho caracterizado pela perseverança e fidelidade onde esta seria menos esperada à partida: na incompreensão, na dificuldade e no sofrimento. O autor não resolve estas situações retirando-as de cena mas dando-lhes um sentido mais profundo na configuração com Cristo. «Mas, que glória há em suportar com paciência, se sois esbofeteados por teres errado? Ao contrário, se, fazendo o bem, sois pacientes no sofrimento, isso sim constitui uma acção louvável diante de Deus»2, 20.
Os Irmãos na 1ª Carta de Pedro
Mais uma vez esta palavra é muito importante para que possamos perceber também qual o objectivo do autor da Carta. A Primeira Carta de Pedro, sendo uma carta dirigida àqueles que se sentiam como estrangeiros no meio de todo o povo, os paroikos, é um convite, uma exortação a que cada um procure mesmo neste isolamento viver aquilo a que foi chamado, que é a sua fé em Cristo Ressuscitado. Mas viver uma fé em conjunto com todos aqueles que são chamados a esta vivência, com todos aqueles que são paroikos, tornando-se assim irmãos uns dos outros, dado que partilham a sua vida. Esta irmandade, adelfothta, é assim o lugar no qual os cristãos se tornam verdadeiramente cristãos.
Também nesta Carta a palavra agapetoi está presente, revelando que o amor é o elo de ligação entre esta fraternidade, esta irmandade.
A NOVA ORDEM CÓSMICA: A LEI DA LIBERDADE (Tg 1, 25; 2, 12)
Solidificando uma identidade...
Num primeiro aspecto a palavra “litos” pode-nos situar apenas o termo material, tão importante para construir uma casa material. Contudo também sabemos que a casa diz muito mais que um espaço meramente físico. È um espaço de relação, de identidade, onde aqueles que lá entram tornam-se pedras vivas na edificação de um edifício espiritual.
No capítulo dois desta carta temos a ocorrência abundante do termo “litos”. Numa primeira referência refere-se à Pedra Viva que é Cristo ressuscitado, Ele é a pedra angular onde é afirmada a vida de Deus.
Neste sentido a utilização deste termo na primeira carta de Pedro, como podemos constatar neste capítulo estabelece um paralelo entre a Pedra Viva que é Cristo e as Pedras Vivas que os cristãos são chamados a ser.
Neste sentido os cristão são chamados a construir uma casa espiritual, que é muito mais que a família de Deus que estávamos habituados a ouvir. Como casa espiritual eles são lugar onde se constrói a identidade numa relação com a única Pedra Viva que é Cristo.
A casa como lugar de construção de identidade, habitado por pedras vivas que são os Cristãos edificados na Pedra Viva que é Cristo, é na carta de Pedro o lugar da reafirmação e da solidificação da identidade comunitária das primeiras comunidades cristãs, como também uma exortação à coesão interna do grupo possível pela relação de intimidade que se estabelece nas casas.
Tudo isto permitia que as comunidades, chamadas à esperança, conseguissem ultrapassar os desafios que a história e cultura onde se inseriam lhes suscitavam.
O que era decisivo para essas comunidades cristãs não perderem a sua identidade era a ligação a Cristo, pedra viva, donde vem o sentido de pertença dos cristãos como também é a pedra da solidificação da identidade dos cristãos.
Construída na Pedra...
A primeira Carta de Pedro diz-nos em 2,4: “Chegando-vos para Ele, a pedra viva, rejeitada, sim, pelos homens, mas para Deus eleita e preciosa.”Nesta frase podemos perceber o essencial da Carta de Tiago. Com um autor que sem duvida esta unido a esta pedra viva que é Cristo e que d’Ele recebe a vida numa união, escreve às comunidades a incentivá-las a se edificarem nesta única Pedra Viva que é Cristo e dela receberem a força que necessitam no momento histórico e social que estão viver.
A carta de Tiago é escrita num momento em que as comunidades a que é dirigida passam por tensões como: a dupla caracterização que as constroem, isto é, elas pertencem à história da aliança com o Povo de Deus, mas contudo também se inserem na dimensão cultural do império, que tenta absorver estas pequenas comunidades. Nesta tensão a comunidade corre o risco da diluição da sua identidade que nada mais é que esta edificação na Pedra Viva que é Cristo. Neste sentido temos na Carta de Tiago, mesmo sem a utilização do termo “litos” uma exortação a permanecerem unidos e edificados em Cristo donde brota a sua identidade e a perseverança na mesma no meio da pressão do império.
Na Carta de Tiago temos sobretudo uma exortação a uma vida Cristã autentica que só é possível quando a comunidade esta assente na Pedra Viva da qual brota a agua para manter a sua autenticidade para que nesta relação de fé possa derivar um compromisso sério com o mundo e com a história.
Desinstitucionalização do judaísmo e emergência Cristã
O cristianismo em expansão serve-se do modelo sinagogal judaico que longe da grande referencia que é o templo se encontra em movimento de desinstitucionalização o que permite uma maior abertura do judaísmo da diáspora e que leva a que o cristianismo se enquadre plenamente na figura da homilia e pela ordem do discurso, da palavra, desenvolve-se como uma hermenêutica que é feita ao mesmo tempo sobre os factores históricos, isto é, o factor crístico, sobre as instituições e aqui as instituições judaicas e pelos textos que são a totalidade do corpus bíblico.
Assim se compreende o contacto de Paulo com os judeus em Roma e o relacionamento fácil que Paulo conseguiu utilizar para a partir daí fazer desabrochar o protagonismo da palavra que abre o tempo da Igreja também a partir da capital do império Romano.
De Jerusalém a Roma
Os Actos referem-nos o seguinte: “Três dias depois, ele convocou os principais dos judeus e, quando reuniram, disse-lhes: Varões irmãos, nada havendo feito contra o povo ou contra os costumes paternos, contudo vim preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos” (Act 28, 17). Nesta passagem constatamos que Paulo encontra Judeus em Roma, e encontra já uma comunidade organizada, com responsáveis, pois o texto refere-nos o encontro apenas com os principais dos judeus.
A presença dos judeus em Roma deriva da diáspora judaica que teve inicio no séc VIII antes de Cristo, quer por deportações, quer por imigração voluntária, e que se irá espalhando quer pela Ásia, quer pelo mediterrâneo, chegando assim aos grandes centros culturais que se foram constituindo até à época Neo Testamentária, onde se incluem os centros culturais da época helenística e que exerciam uma grande atracção. Neste sentido é possível encontrar colónias judias fortes em Antioquia, Alexandria e Roma.
Neste sentido percebe-se a presença de Judeus já em Roma, pólo de grande diversidade, num ambiente marcado pela diversidade religiosa proporcionada pelo próprio império. É uma destas comunidades que Paulo encontra quando chega a Roma.
"Vocês são...os nossos irmãos mais velhos"
Paulo chega a Roma e encontra os Judeus a quem se dirige tratando-os por “varões irmãos”. Cerca de dois mil anos depois temos o sucessor dos apóstolos a dizer o mesmo mas partindo de Roma ao encontro dos Judeus. As palavras de João Paulo II “encarnam” quando lemos Actos 28, 17, pois sãos os Judeus a primeira comunidade a receber a pregação de Paulo em Roma, aquela que é agora o lugar não da chegada dos apóstolos, mas sim o lugar da partida dos seus sucessores para a evangelização.
Neste sentido e pensando nisto escolhi como personagem aqueles “principais dos judeus”, os primeiros a quem Paulo se dirige depois de chegar a Roma. Estes são a primeira sementeira da qual a Igreja começa a nascer na cidade de Roma, pois destes que vieram com a sua comunidade “houve alguns que ficaram persuadidos pelo que ele dizia” (Act 28, 24).
31/05/2007
Onde se encontra a FÉ?
Nas obras, responde Tiago. Este é o problema tratado em 2,18-19: Mas, dirá alguém «Tu tens a fé e eu tenho as obras». A objecção do interlocutor fictício, que Tiago criou para explicar este problema, é insidiosa e poderá estar na mente de muitos leitores; efectivamente, o interlocutor não nega a fé nem as obras, nem nega a relação entre as duas. Tiago não poderia negar nem a sua própria fé nem as obras de tal interlocutor. O problema, para Tiago, está na divisão de fé e obras e na separação das duas distribuídas por dois sujeitos diferentes.
A fé de Tiago encontra-se precisamente nas “obras”; não acha necessário falar da fé, porque esta se encontra nas obras e são estas que manifestam a fé; quando faltam aquelas, também a fé desaparece rapidamente. Tiago, sarcasticamente, provoca, por isso, o seu interlocutor a mostrar a sua fé sem obras, o que é impossível. Depois, recorre ao paradoxo: sem as obras é mesmo impossível acreditar em Deus, a menos que alguém se contente com uma fé de demónio. Crer em Deus será, pois, admitir tudo o que Ele quer, levando a sua vontade para a vida. Resumindo, é absolutamente necessário que, no mesmo indivíduo, se juntem a fé e as obras, teoria e praxis. A falta do comportamento é só uma ilusão de fé.
Mas Tiago não se contenta com isso. Apresenta Abraão, modelo da fé, com uma fé apresentada em termos de comportamento. Para corrigir falsas interpretações da doutrina de Paulo sobre a fé? Em confronto com o próprio Paulo? (2,20-23), Rom 4 diz que Abraão foi justificado somente pela fé, porque as obras da Lei ainda não existiam. A sua fé está em confiar plenamente em Deus. Tiago põe o problema de maneira diferente: não lhe interessam as obras da Lei antiga como tal. A única Lei que lhe interessa é a lei perfeita da liberdade, e consiste na formulação interior em termos operativos provocados pela Palavra de Deus. Foi isso que aconteceu com Abraão: no seu contacto com Deus, sabe que tudo quanto Deus lhe pede com a sua Palavra deve ser executado, sem hesitações. Deus pode pedir tudo. E isso tudo é concretizado no sacrifício de Isaac. Ao não hesitar na execução da Palavra de Deus, Abraão prova, à evidência, a sua fé de abandono radical a Deus. A fé, este abandono sem reservas à palavra de Deus manifesta-se nas obras. Sem estas, seria apenas um vago sentimento. Este será o único modo de manifestar fé em Deus.
A expressão final da fé morta (2,26), no seu conjunto, exprime a inseparabilidade da fé e das obras, à semelhança da inseparabilidade de corpo e da alma na mesma pessoa. Choca-nos, no entanto, a comparação corpo-fé e alma-obras. Trata-se apenas de uma comparação para provar a dita inseparabilidade, numa concepção unitária do homem: a fé é vista com todo o mecanismo espiritual que leva à realização das obras; mas as obras realizadas não são unicamente um sinal da fé viva e operante, pois permitem a sobrevivência da fé. De outro modo, como víamos anteriormente, a fé retrocede e desaparece. No que se refere à pessoa na sua dimensão corporal, esta tem uma função analógica: indica a vida e faz viver
Deste modo, as obras são sinal de que a nossa fé está viva e impedem que ela morra. Como consequência, a fé é vista como vida operante e consequente. As obras sem fé não teriam sentido. Se existem, é porque existe a fé total, interior e exterior, de palavra e de obras, que revolve toda a pessoa humana, sem outros resíduos heterogéneos. Só esta fé merece o nome de fé, porque coincide com a estrutura íntima da própria pessoa.
Resumindo, a fé inclui necessariamente as obras e estas são inseparáveis da fé. Não se podem dividir e separar, como se fossem “coisas” diferentes. Sem obras, só há a fé do demónio. Fé sem comportamento é fé ilusória. A fé de Abraão é o modelo, porque é sem Lei, por ser anterior à Lei.
"Adelphos" em contraste com "estrangeiros"
Assim, a “categoria” de irmão assume aqui uma importância fundamental, pois ser irmão, viver numa comunidade de irmãos, é um verdadeiro testemunho no meio da sociedade. Ser irmão é uma partilha de vida, de bens, de ideais.
É assim, que este campo semântico assume uma importância fundamental dentro das cartas, principalmente de Tiago, mas também da de 1ª de Pedro. Desta forma, os cristãos, ao chamarem-se a si mesmos irmãos, estão a assumir uma identidade própria que vai contra tudo aquilo que era habitual na altura.
Palavra da Salvação
A Palavra de Deus é o ponto de partida do nosso renascimento divino e nos dá a possibilidade de agirmos de acordo com a vontade de Deus (1 Pd 1, 22-25; Tg 1, 18), porque ela está dotada de poder que vem do Espírito.
Para Tiago, a Palavra é ainda a Lei mosaica (Tg 1, 25), enquanto que para Pedro é a pregação evangélica (1 Pd 1, 25).
O Evangelho aceite com fé e selado com o baptismo permite o perdão dos pecados e a purificação radical. O cristão tem pois, um novo nascimento produzido pela Palavra de Deus, anunciada pelo Evangelho de Cristo. Este novo nascimento formará os irmãos e fundará o amor fraterno.
Divagações de Malta
O título de protos (primeiro) dado a Públio aparece, segundo algumas coisas que li, numa inscrição maltesa. O nome Públio é pois de origem latina, um governador da ilha de Malta.
Em Malta com Públio
Finalmente, aproximou-se da terra, junto à ilha de Malta, mas o barco encalhou numa enseada, desconjuntando a popa. Os soldados resolveram que deveriam matar os prisioneiros para assegurar que nenhum fugisse, mas no decorrer do desembarque todos conseguiram chegar salvos a terra.
Foram recebidos na ilha com grande hospitalidade e benevolência, e Paulo curou o pai moribundo do governador romano e muitos outros que vieram ao seu encontro.
Binómio bem - mal na 1Pedro
Este paralelo estabelece não só o percurso a seguir como delimita o que se deve evitar, ou seja, onde está o bem e o que é mal. Assim neste movimento construído em progressão que o autor vai exortando os cristãos a permanecerem unidos a Cristo, identificando-se sempre profundamente com a Sua vida.
A palavra bem aparece 12 vezes na carta, em 4 formas gregas distintas e a palavra mal aparece 7 vezes, em 3 formas gregas distintas.
BEM - 13 vezes
2, 3 – «já que provaste que o Senhor é bondoso»
2, 12 – «seja bom vosso comportamento entre os gentios, para que, mesmo que falem mal de vós, como se fosseis malfeitores, vendo as vossas boas obras, glorifiquem a Deus, no dia da sua visita»
2, 14 – «seja aos governadores, como enviados seus para a punição dos malfeitores e para o louvor dos que fazem o bem»
2, 15 - «pois esta é a vontade de Deus, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos insensatos»
2, 20 – «Mas, que glória há em suportar com paciência, se sois esbofeteados por teres errado? Ao contrário, se, fazendo o bem, sois pacientes no sofrimento, isso sim constitui uma acção louvável diante de Deus»
3, 6 – «É o que vemos em Sara, que foi obediente a Abraão, chamando-lhe senhor. Dela vos tornareis filhas, se praticardes o bem e não vos deixares dominar pelo medo»
3, 11 – «afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz e siga-a.»
3, 13 – «E quem vos há de fazer mal, se sois zelosos do bem?»
3, 16 – «fazei-o, porém, com mansidão e temor, conservando a vossa boa consciência, para que, se em alguma coisa sois difamados, sejam confundidos aqueles que ultrajam o vosso bom comportamento em Cristo»
3, 17 – «pois, será melhor que sofrais – se esta é a vontade de Deus – por praticardes o bem do que praticando o mal»
4, 10 – «Todos vós, conforme o dom que cada um recebeu, conservai-vos ao serviço uns dos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus»
MAL - 7 vezes
2, 16 - «Comportai-vos como homens livres, não usando a liberdade como cobertura para o mal, mas como servos de Deus»
3, 9 - «Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria; ao contrário bendizei, porque para isso fostes chamados, isto é, para seres herdeiros da benção»
3, 11 – «afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz e siga-a.»
3, 12 - «Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e seus ouvidos estão atentos à sua prece, mas o rosto de Senhor se volta contra os que praticam o mal»
3, 13 – «E quem vos há de fazer mal, se sois zelosos do bem?»
3, 17 – «pois, será melhor que sofrais – se esta é a vontade de Deus – por praticardes o bem do que praticando o mal»
30/05/2007
Lá vão os pés onde quer o coração! (Leitura da Carta de Tiago á luz da palavra coração)
É no coração que está a verdade do homem. Quando Tiago nos diz: (2,18) “mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.” Aqui Tiago fala-nos do agir de coração, do agir que é expressão da fé. Ao mesmo tempo diz-nos que a verdadeira Fé não é aquela apenas dita em palavras, mas sim a que é vivida no coração e expressa em obras (cf. Tg 1,26).
Ao lermos a carta de Tiago á luz da palavra coração, fazemos a experiencia de sermos transportados para as palavras do profeta Jeremias (Jr 4:4) “Circuncidai-vos para o SENHOR, cortai a maldade dos vossos corações, homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que não se converta em fogo a minha cólera e arda e não haja quem o apague, por causa da perversidade das vossas obras”.
αγαπαω - amar
Ao lado do uso do amor aos próximos, fala-se do amor mútuo (cf. 1e2Jo, cartas de Paulo) e fala-se de amor aos irmãos (1Jo); também do amor aos “inimigos”
Fala-se de amor dos maridos a suas esposas (Ef.).
Em Mc12,30.33 e par. (e também especialmente em Paulo, em Tg e 1Jo) Deus é o objecto de acção de amar (do amor); em São João assim como em Ef.6,4; 1Pe1,8; 1Jo5,1, o principal objecto deste acção de amar é Jesus.
Com a excepção de Mc10,21 e de Lc7,5, o verbo agapao e o seu substantivo correspondente (Mt24,12; Lc11,42) aparece nos Sinópticos unicamente usado por Jesus.
O mandamento aos inimigos tem uma categoria especial assim como o duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo.
Em Q a exigência “amai os vossos inimigos” (Lc6,27.35 par. Mt5,44) apareciam já em referencia a que os discípulos tinham que romper e ir mais além da reciprocidade do amor Lc6,32 / Mt5,46, em conexão com a referência de que, é só desta maneira que se pode ser filho de Deus. O amor aos inimigos significa a rejeição do ódio que abrigavam os zelotos, e a superação do amor dirigido unicamente aos próximos (Cf. Mt5,43).
São Tg1,12 põe em relevo que é bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam. A mesma expressão τοις αγαπωσιν αυτον encontra-se em 2,5 associada com a promessa de “herdeiro do reino”, portanto quem ama é filho do reino de Deus. Em 1Pe1,22 exige-se “amor fraterno sincero” «…de coração amai-vos ardentemente uns aos outros,» (cf. 1Pe1,22 Também 1Pe2,17; 4,8). O amor é portanto o mandamento principal nesta comunidade dos forasteiros, fazendo deles os herdeiros do reino de Deus.
Érgon - conclusão
Julmamento (parte 1 - uso linguístico)
Quanto ao seu uso linguístico, a raiz do termo é semelhante ao termo latino cerno: separare (separar e seus sinónimos: pôr de parte, seleccionar); contudo, o significado mais corrente é o de decidir, criticar, interpretar, sentenciar, decidir, determinar, estabelecer... Trata-se de um termo muito frequente no discurso jurídico, mas a sua origem não lhe pertence. Os LXX traduziram as raízes djn, rjb e, sobretudo, spt por crinw, podendo significar tanto o acto de julgar como acto de redenção e salvação de toda a opressão. Tem igualmente um significado mais lato, podendo significar o acto de governar. No NT significa, sobretudo, o acto de julgar, mas também o juízo de Deus (Rm 2,16; 3,6), o juízo do homem (Act 23,3) e o juízo não oficial, puramente pessoal (Mt 7,1; Lc 6,37). O termo crinw interessa ser abordado enquanto significa julgar e quando se refere ao julgamento de Deus.
SABEDORIA (σοφία)
É um conceito diferente de "inteligencia" ou de "esperteza". Mesmo para "sophia" há conceitos diferentes: muitos fazem distinção entre a "sabedoria humana" e a "sabedoria divina" (teosofia).
Por Sabedoria humana seria a capacidade que ajuda o homem a identificar seus erros e os da sociedade e corrigi-los. Sabedoria divina será provavelmente a capacidade de aprofundar os conhecimentos humanos e elaborar as versões do Divino e questões semelhantes.
Como podemos ver na 1ª Carta de São Pedro a sabedoria é acima de tudo uma prática, uma arte ou habilidade, que pode ser também aplicada ao mal. A sabedoria, tal como a sensatez, distingue-se pelos seus frutos.
O livro da sabedoria fala-nos da sabedoria divina e da relação homem-sabedoria, da exaltação da sabedoria e da forma de recebê-la através de Deus.
A sabedoria no judaísmo era o conhecimento religioso e moral que capacitavam o homem para servir a Deus. A perspectiva que a sabedoria vem de Deus é basicamente judaica. Para o judeu, se adquiria sabedoria através do estudo da Torah, mas Tiago a coloca como um dom supremo e direito de Deus para o crente.
É claro que o estudo da Palavra também nos trará sabedoria (Salmo 119), mas também ela deve ser buscada através de uma oração com fé. O homem que duvida é como a onda do mar, inconstante e instável.
29/05/2007
Coração “ΚΑΡΔίΑ”
No caso da Carta de Tiago encontramos cinco referências à palavra Coração:
Tiago 1:26 Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, enganando assim o seu coração, a sua religião é vazia.
Tiago 3:14 Mas, se tendes no vosso coração uma inveja amarga e um espírito dado a contendas, não vos vanglorieis nem falseeis a verdade.
Tiago 4:8 Aproximai-vos de Deus e Ele aproximar-se-á de vós. Lavai as mãos, pecadores, e purificai os vossos corações, ó gente de alma dividida.
Tiago 5:5 Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos corações… para o dia da matança!
Tiago 5:8 Tende, também vós, paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima.
Nada de novo debaixo do Sol (Ecl 1,9)
Ananias e Safira (Act 5, 1-11)
A falsa generosidade de Ananias e Safira não está no facto de o casal ter guardado parte do valor do terreno para si, mas sim no facto de terem dito que ofereciam à comunidade a totalidade do valor do terreno que haviam vendido.
Ao apresentar apenas parte do valor do terreno Ananias procura enganar a Deus e não aos homens (cf. Act 5,5). Facto que torna esta acção de Ananias comparável à de Judas; agindo como instrumento de Satanás (cf. Lc 22,3; Jo 13,2.23).
Em jeito de segunda cena vemos aparecer Safira. Ao aparecer em cena Pedro não perde tempo em interroga-la e em certificar-se de que esta era cúmplice do marido. Desta forma também ela é merecedora do mesmo fim que Ananias.
A propósito da comunidade é de referir que é neste trecho Act 1-11, que pela primeira vez no livro dos actos aparece referida a palavra "ekklesia", o que expressa de forma mais evidente o peso que aqui se quer dar à comunidade, como comunidade de salvação.
Escusado será dizer que este casal apenas aparece neste trecho do livro dos actos dos Apóstolos.
Este termo surge seis vezes na primeira carta de Pedro:
1Pd. 1,5;
1Pd. 1,7;
1Pd. 1,12;
1Pd. 1,13;
1Pd. 4,13;
1Pd. 5,1:
A minha escolha recaio neste termo, porque se trata de uma palavra que ocupa um lugar discreto no texto, mas que se caracteriza por ter uma grande importância para o homem.
Porque é pela revolução que o homem chega a resposta de duvidas que tem nos vários campos como: o do amor, do mal, da morte e do futuro do homem.
O homem só chega à resposta destas perguntas com a graça, a revelação gratuita de Deus em Jesus Cristo.
Os Irmãos
Ao dirigir-se aos cristãos como adelfoi, irmãos, o autor procura deste modo ganhar por um lado a confiança dos mesmos leitores, de forma a que a sua mensagem seja por eles recebida; por outro lado ao dirigir-se a elas desta forma, o autor revela aquilo que é a Igreja no seu ponto de vista, isto é, uma comunidade de irmãos. Daí que o teor desta carta seja todo ele muito exortativo, revelando que o desejo do autor é chamar os adelfoi a uma vida de acordo com este nome. O adelfos é assim a marca característica dos cristãos dos primeiros tempos.
Saliente-se que sempre que se dirige aos adelfoi, o autor associa em algumas ocasiões a palavra agapetoi, o que revela ainda muito mais esta união, esta comunhão, este mesmo viver que ambos devem partilhar.
Crispo: chefe da sinagoga de Corinto
Paulo encontra-se na cidade de Corinto. Depois de ter pregado no Areópago ele encaminha-se directamente para Corinto (Act. 18,1). Depois de nos dar conta da expulsão de todos os judeus de Roma, o autor dos Actos dá-nos conta de outras personagens que Paulo encontrou em Corinto, aos quais se dirigiu para com eles exercer uma actividade profissional.
Mas o serviço da palavra não era descurado sobretudo na sinagoga onde Paulo pregava todos os sábados. Entretanto chegam outros companheiros (Silas e Timóteo) e Paulo dedica-se inteiramente à Palavra.
A nossa personagem aparece como fruto da pregação de Paulo. Em relação a Crispo há três dados de conversões: de si próprio, da sua família, e de muitos coríntios que acreditaram. A sua conversão deve ter tido um impacto social importante.
Uma outra referência a esta personagem encontra-se em 1Cor 1,14 onde Paulo quando se dirige à comunidade de Corinto afirma ter baptizado Crispo.
Receberá a coroa da vida
Os benefícios de Deus à criação são como uma coroa: coroou o homem de honra e glória (Sl 8,6; 103,4), o amo com a sua generosidade (Sl 65,12). A nova Jerusalém é como uma coroa brilhante nas mãos de deus (Is 62,3). O próprio Deus é como uma coroa honrosa para o “Resto de Israel” (Is 28,5). S. Paulo chama à sua comunidade “ minha coroa” (1 Tes 2,9; Fil 4,1).
A coroa é sinal do Amor que Deus tem pelo seu Povo, da Aliança, que Deus estabeleceu com ele, como nos prova Ezequiel 16,8b. 12: «Estendi sobre ti a ponta do meu manto e cobri a tua nudez. Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança - oráculo do Senhor Deus. E ficaste a ser minha… Coloquei-te um anel no nariz, brincos nas orelhas e uma coroa de ouro na cabeça.»
A coroa é a glória, e se «a glória de Deus é o homem vivo», como diz Santo Ireneu, assim, a glória é a vida. A mesma conclusão podemos tirar quando Job diz que foi despojado da sua glória: «Despojou-me da minha glória, e tirou-me a coroa da cabeça.» (Job 19,9)
É da coroa da vida que consiste a vida eterna, como nos diz Tiago 1,12. «O homem que resiste à tentação, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam.» (Tg 1,12). Esta citação de Tiago assemelha-se a uma citação de Pr 19,5: «Aquele que se regozija com a iniquidade será condenado, mas quem resiste aos prazeres coroa a sua vida.» «E, quando o supremo Pastor se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória.» (1 Ped 5,4).
S. Paulo apresenta-nos esta coroa, da vida eterna, como prémio a alcançar, já que fomos alcançados por Cristo: «Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível.» (1 Cor 9,25); «Tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo…Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos. Corro, para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não me julgo como se já o tivesse alcançado. Mas uma coisa faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direcção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus.» (Fil. 3, 7.10-14)
Nos Evangelhos a palavra coroa só ocorre na história da Paixão; é a coroa de espinhos (Mt 27,29; Mc 15,17; Jo 19,2.5). Na intenção dos soldados foi sem duvida um escárnio, mas os evangelistas, certamente S. João, viram neste gesto uma profecia da verdadeira realiza de Jesus (como se pode confirmar na inscrição da cruz).
A cegueira de Barjesus, o mago.

O mago cego, que se encontra na escuridão, transforma-se em símbolo das trevas, que se abatem sobre aqueles que se opõem à oferta da salvação e que impedem aos outros de encontrar a salvação que tantos procuram.
Já o procônsul impressionado pelo “sinal” representa todos aqueles que aderem à mensagem de Cristo, acolhem o seu projecto de salvação, que abraçam a fé.
Barjesus apresenta-se como um adversário ao projecto divino, obstáculo à adesão dos pagãos à novidade do cristianismo. O seu verdadeiro pai espiritual é o diabo, o pai da mentira (cf. Jo 8,44). Paulo quando dirige a palavra a Barjesus cheio do Espírito Santo em 13,10, depois de fitar os olhos nele, chama-o de bar-diabo, “filho do diabo”, em vez de Barjesus, porque é inimigo de toda a justiça, entorta os caminhos rectos de Deus (cf. Os 14,10) e conduz os homens ao erro.Paulo invocando a mão poderosa do Senhor faz com que o mago, enraizado já na sua cegueira interior, fique cego por um tempo sem que ele veja a luz do sol. Por conseguinte, o procônsul ao ver isto abraçou a fé, surgindo nele a partir daquele momento uma luz interior que apagou toda a obscuridade.
Podemos tirar partido das Provações?
A Alegria nas Provações
«Feliz o homem que resiste à tentação, porque, depois de ter sido provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam.» (Tg 1,12) Estas palavras remetem para as Bem-Aventuranças de Jesus e a promessa do Reino aos que sofrem e aos perseguidos (Mt 5,4.10-12; Lc 6,22s). Tiago acrescenta as Bem – Aventuranças e promete a coroa a quem superar o sofrimento e qualquer outro tipo de tentação.
«Pelo contrário, alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória.» (1 Ped. 4,13) Por sua vez, Pedro justifica que sofrer significa que desde logo o cristão participa também da e na paixão de Cristo e, em ultima analise, é uma alegria. Certamente o sofrimento do cristão não é uma questão privada do carácter de tentação.
Na 1ª carta de Pedro, a associação de juízo e tentação encontra-se já noutras passagens do N.T. Aqui Jesus anuncia que nos últimos tempos «surgirão falsos messias e falsos profetas que farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os eleitos» (Mc 13, 22). Mas o Senhor «sabe livrar da provação quem é piedoso e reservar os maus para o castigo do dia do juízo» (2 Ped 2,9), «porque, depois de ter sido provado, o homem que resiste à tentação, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam.» (Tg 1,12).
28/05/2007
Barjesus ou Elimas?

Em Act 13,8 aparece dois nomes acerca da mesma personagem. Primeiro Lucas diz-nos que Elimas se traduz como “mago”. Elimas na sua forma original não é um nome grego, dado que Lucas tenha feito uma tradução semelhante do aramaico que significa “sábio”. O que é claro é que Lucas com isto não esta a dizer-nos a tradução ou o significado do nome próprio do mago, Barjesus.O seu nome próprio aparece no versículo 6b: Barjesus. Da mesma forma que Lucas designa ao procônsul pagão um “nome duplo”, Sérgio Paulo, da mesma forma o fez com o mago judeu dando-lhe um “nome duplo”, o nome próprio Barjesus (filho/discípulo de Jesus) e o sobrenome Elimas, que em aramaico significa sábio e que Lucas traduz como mago.
Resumo Actos
'KOSMOS' NA CARTA DE TIAGO
Tiago interpela: A Palavra e a vida (1,19-27):
A vida cristã é um dom que vem do Alto, do Pai das luzes (1,17). E a mais importante luz que Ele derrama sobre o cristão é a sua palavra da verdade (1,18). A correspondência entre a sua Luz-Palavra e a nossa vida prática restitui ao cristão a primeira imagem do projecto de Deus criador (Gn 1,26-27), tornando-o primícias das suas criaturas.
Mas esta Palavra vinda do Alto passa pelo irmão da comunidade que, de algum modo, filtra a Palavra. Nele, a Palavra torna-se simplesmente “palavra para ouvir”, sem deixar de ser Palavra de Deus (1,19). É preciso encontrar este lado positivo da Palavra na comunidade, evitando a ira, que corta a nossa ligação com a Palavra do Pai. A positividade da Palavra de Deus passa pela aceitação, escuta da palavra da comunidade.
Mas a simples escuta da Palavra não chega. Ela necessita de ser acolhida no coração e de passar para a vida. Só nesta terceira etapa ela adquire toda a dinâmica positiva que lhe é própria. O que se contenta com o ouvir “engana-se a si próprio” (v.22), porque pensa que realiza toda a dinâmica da Palavra, quando apenas começou. É neste sentido que – em comparação com o Torah do AT – a Palavra se torna a lei perfeita, a lei da liberdade (1,25). Isto, enquanto vem de dentro – do coração – e não como conjunto de prescrições impostas a partir de fora. A passagem da Palavra para a vida é muito concreta: visitar os órfãos e as viúvas, segundo a caridade do AT, e não se deixar contaminar pelo mundo, isto é, ter um coração semelhante ao coração de Deus (1,27).
Obediência
No heb. não há uma expressão « obedecer». Dizia-se «ouvir» (Jer. 7,23) « responder» ( Is. 66,49) « fazer» ( Ex. 7,6) . A obediência não é entendida como uma relação cega e material, mas sim como uma relação de pessoas.
A obediência resulta da aliança e do amor de Deus ( cf. Dt. 10,12). A obediência a Deus é também para o cristão uma atitude fundamental (Mt.7,24). Ela resulta da fé e está muitas vezes disposta a ver também a vontade de Deus detrás de outras autoridades ( Lc. 10,16; Col. 3,20s) escravos ao estado. A obediência de Cristo não é apenas modelo ( Fil. 2,5), mas também motivo da sua exaltação ( Fil. 2,8s).
Longe de ser uma violência que se sofre e uma submissão passiva, a obediência, é livre adesão ao desígnio de Deus ainda encerrado no mistério, mas proposto á fé pela Palavra, possibilita ao homem fazer a sua vida um serviço de Deus e entrar no seu gozo.
Obediência é submissão do homem á vontade de Deus, é cumprir um mandamento cujo sentido e valor não vemos, mas no qual percebemos um imperativo divino. Se Deus exige nossa obediência, é que ele tem um plano a cumprir, um universo a construir, e que Ele precisa da nossa colaboração, da nossa adesão na fé. A obediência é sinal e o fruto da fé. A obediência de Jesus Cristo é a nossa salvação e nos obtêm o dom de termos de novo a obediência a Deus. A vida de Jesus Cristo, desde sua a entrada no mundo e até a morte da Cruz, foi de obediência, isto é, adesão a Deus através de uma série de intermediários: personagens, acontecimentos, instituições, Escrituras do seu povo, autoridades humanas.
Na sua paixão Ele leva a sua obediência ao ponto culminante, entregando-se sem resistência a poderes desumanos e injustos, passando através de todos os sofrimentos, pela experiência da obediência fazendo de sua morte o sacrifício mais precioso a Deus, o da obediência.
Lisboa, 28 de Maio de 2007
Ferreira Bernardo nº 110105538
Ser Santos para Construir a CASA de DEUS.
Estamos perante um comovente convite à santidade de vida. O cristão deve agir de acordo com a sua condição de filho de Deus. Toda esta parenética (oratória) está marcada por imperativos: de ânimo preparado para servir... vivendo com sobriedade, ponde a vossa esperança na dádiva que vos vai ser concedida (1,13)... não vos conformeis... sede santos (v.14-15). Santo, na Bíblia, é o que vive separado (qadosh), o que é diferente. O cristão está chamado a ser diferente dos pagãos, isto é, o tempo da vossa ignorância (v.14). Para convencer os ouvintes, Pedro recorre às Escrituras (que eles devem conhecer). Comportai-vos com temor durante o tempo da peregrinação (v.17). Argumento: Sabei que fostes resgatados pelo sangue precioso de Cristo, mais que prata e ouro. Jesus ressuscitado é fundamento da esperança cristã (v.19-21).
Mas a santidade cristã manifesta-se sobretudo na caridade (v.22-25). Continuam, por isso, a imposição, próprios da parenese: Amai-vos intensamente uns aos outros do fundo do coração. O motivo de tal amor não está num simples convívio caritativo, mas na semente incorruptível da Palavra de Deus… que permanece para sempre (v.23.25). É a Palavra que produz a caridade. Em oposição com a força da Palavra eterna, esta vida de peregrinação é comparada com a erva que seca e que, em muitas passagens bíblicas, significa a fragilidade da vida humana (ver Is 40,6-7; Sl 1). É, pois, a Palavra que fará participar na eternidade de Deus, a Palavra que vos foi anunciada (v.25).
αγαπαω - Amar

αγαπη – amor
αγαπητος – amado, muito querido.
Os três termos aparecem 320 vezes no Novo Testamento (NT).
αγαπη aparece 143 vezes (no Evangelho de São João aparece 37 vezes, nas cartas de S. João 31 vezes)
αγαπη aparece 116 vezes (em 1-3 de Jo. – 21 vezes, 1 Cor. -14 vezes, Ef – 10 vezes.)
αγαπητος aparece num total de 61 vezes (em 1-3 de Jo. 10 vezes, Rm. 7 vezes, 2Pe - 6 vezes).
Se nos temos em conta todos os três termos, eles aparecem 106 vezes nos Escritos Joaninos; em Paulo juntamente com os escritos pos-paulinos 136 vezes; os Sinópticos juntamente com os Actos usam estes vocábulos somente 37 vezes; e o resto do NT com um uso de 41 vezes.
O conteúdo semântico destes três vocábulos no que se refere unicamente ao N T se pode traduzir quase em todos os casos por amor, amar e amado.
O termo αγαπαω quase exclusivamente se refere, no que diz respeito ao NT, a amor entre pessoas.
Pode-se encontrar também a referência do amor às coisas, por exemplos à vida (1Pe3,10) ao salário injusto (2Pe2,15), ao mundo (1Jo2,15) …
Em S. Tiago o verbo αγαπαω aparece três vezes (cf. Tg1,12; 2,5; 2,8); o adjectivo αγαπητος aparece três vezes (cf. Tg1,16; 1, 19; 2,5).
Na primeira de Pedro, o verbo αγαπαω aparece quatro vezes (cf.1Pe1,8; 1,22; 2,17; 3,10); o adjectivo αγαπητος aparece duas vezes (cf.1Pe2,11;4,12); o substantivo αγαπη aparece três vezes (cf.1Pe4,8; 5,14).
KIRIOS
Como é que este título relaciona as duas cartas? A partir desta palavra, as duas cartas têm uma coisa em comum, as duas vão buscar referênias ao A.T para falar de Deus e de Cristo como Senhor. No AT, atribuia-se a Deus Este título, mas usá-lo para outra pessoa era impensável. Ora, é isto que vão fazer Tiago E a 1ª carta de Pedro, atribuindo o título a risto como Senhor vão-nos dizer uma coisa muito importante, que eles partilham a fé cristã de forma assumida, sem receio. Eles não entendem Deus como Senhor sem fazer a devida referênia ao Filho, Jesus Cristo. É impensável para um Judeu usar o título Senhor a não ser a Deus.
Tanto para Tiago como para 1ª de Pedro, Deus é aquele que se revela através do seu Filho Jesus Cristo.