24/05/2007

Campo semântico de ypomonê - makrothumia

Outro termo do campo semântico de upomonê é makrothumia e seus derivados. Assim, o verbo makrothumeô, que significa ter paciência ou ser paciente, aparece em Tg 5,7 (duas vezes); 5,8. O substantivo makrothumia, que se traduz por paciência ou longanimidade, surge em Tg 5,10 e 1 Ped 3,20.
No NT, encontramos 10 vezes o verbo, o substantivo 14 vezes e o advérbio uma única vez, sendo que nos Evangelhos só aparece o verbo (e apenas por três vezes) e que nos escritos joaninos ele não é de todo usado.
No NT, makrothumia não é apenas um atributo de Deus (e de Jesus), mas também uma característica do cristão. A makrothumia de Deus significa também a sua paciência, mas traduz concretamente a característica de um prazo durante o qual Deus retém a sua ira e quer dar aos homens a oportunidade de se converterem, iludindo assim o castigo divino e alcançando a salvação. Segundo 1 Ped 3,20, Deus aguardou pacientemente antes de enviar o dilúvio.
Num sentido mais profano, makrothumia encontra-se em Tg 5,7 (duas vezes).8.10. Tg 5,7 faz referência à parusia que se aproxima e exorta os irmãos a aguardar com paciência como o lavrador, a ser sempre pacientes e a resistir, como perseveraram Job (cf. upomonê, v.11) e os profetas.

A PALAVRA YPOMONÊ NA CARTA DE TIAGO

Ypomeô, em sentido figurado (apenas Lucas o usa em sentido espacial), significa permanecer, em vez de fugir; aguentar e suportar males (não se referindo em ocasião alguma a pessoas); permanecer firme em circunstâncias difíceis, mas nunca tem a acepção de aguardar e confiar em alguém. O verbo ypomeô pode aparecer em sentido absoluto (Tg 5,11), mas na maioria dos casos concretiza posteriormente o seu significado.
Num sentido ético geral, ypomeô significa a firmeza perante toda a classe de tentação para o mal (Tg 1,12; 5,11). Por outro lado, trata-se de uma atitude que não devolve o mal que se sofreu, mas que o aceita. Sofrer vexames, maus tratos, é frequentemente a sorte dos escravos. Se eles têm esta paciência para serem castigados pelas suas faltas, mesmo por aquelas das quais são culpáveis, isso não é motivo para se gloriarem (1 Ped 2,20 a), mas na maior parte dos casos é «coisa meritória diante de Deus» (1 Ped 2,20 b.c.).

A PALAVRA YPOMONÊ NA CARTA DE TIAGO

A palavra que escolhi é upomonê, que significa paciência, perseverança e constância. Aparece em Tg 1,3.4; 5,11, mas não se encontra na Primeira Carta de Pedro. Contudo, o verbo ypomoneô, que se traduz por suportar, aceitar sobre si, manter-se firme, surge em 1 Ped 2,20 (duas vezes) e em Tg 1,12; 5,11.
Ypomonê, substantivo derivado de upomoneô, significa a acção de permanecer firme e perseverar em determinadas circunstâncias, mas também o permanecer na esperança em vista do tempo que passa. No primeiro de estes dois casos observa-se uma deslocação do acento no que diz respeito ao uso geral do termo no grego; no segundo, uma deslocação no que diz respeito ao conceito de upomonê (ou da miqweh) no AT. O NT atribui a atitude da upomonê unicamente a pessoas, isto é, a cristãos. Em Tg 1,3, aparece associada com pistis e em Tg 1,4 liga-se a ergon. Ypomonê designa assim uma das exigências e virtudes cristãs correntes, e converte-se deste modo na instrução e palavra-chave da pregação eclesial. A upomonê já não se encontra tanto no campo de tensão entre os enunciados sobre o presente e os enunciados sobre o futuro. A carta de Tiago entende a upomonê como a perseverança nas provas da fé (Tg 1,3.4; 5,11).

Simão, o curtidor: já começa a aborrecer, mas...

A importância de Simão, o curtidor, reside no facto de Pedro se inserir já num contexto doméstico que antecipa a sua entrada na casa de Cornélio. Pedro é preparado, deste modo, tanto geograficamente como culturalmente, para exercer o seu papel de mensageiro à casa.
Um ponto a ter em conta é que Pedro (não sendo ele o anfitrião) acolhe os enviados de Cornélio na casa de Simão. Deste modo, ele introduz três homens pagãos (e portanto impuros) num espaço que lhes estaria, à partida, vedado. A casa de Simão, o curtidor, em cujo terraço Pedro tem a sua visão, é então o primeiro lugar onde pagãos e judeus coabitam sob o mesmo tecto. Instauram-se aqui dois movimentos, ambos tendo a iniciativa de Deus na sua génese, que conduzem cada um ao encontro do outro: assim, em Jope, os pagãos (representados pelos mensageiros de Cornélio) acedem à casa de um judeu; em Cesareia, são os judeus (Pedro mais os seus companheiros vindos de Jope) que entram na casa de um pagão.

Ainda um pouco mais sobre Simão, o curtidor

Cesareia é uma vila marítima pagã em território samaritano, com a agravante de ser a sede habitual do poder romano, e um judeu piedoso, tal como Pedro é descrito nos Actos, recusar-se-ia a lá pôr os pés. Jope, ao invés, era uma cidade prevalentemente judaica, a 50 km de Cesareia na costa mediterrânica, não distante de Jerusalém. Assim, esta superação das distâncias no plano topográfico antecipa a superação das distâncias no âmbito espiritual. De facto, Pedro ultrapassará a distância que separa o «puro» do «impuro»: acolhe os pagãos «impuros» em casa (10,23) e depois aceita a hospitalidade de Cornélio, permanecendo com ele e com os outros irmãos (10,48).

Reflexão teológica da palavra πειρα

Na vida concreta do cristão há duas forças opostas que se degladiam, pelo que a vida cristã tem o carácter de uma luta continua. Luta esta que se trava entre Cristo que vem fundar o Reino de Deus e as forças do mal (Mt 12,25-30.43-45). É no próprio homem que se dá esta batalha entre a sua concupiscência ainda não redimida e os efeitos da presença do Espírito Santo (Gal 5,16-25). Esta situação de perigo contínuo exige do cristão que não cesse de pedir a Deus que não o «deixe cair em tentação» (Mt 6,13).

πειρα no Novo Testamento

Deus sujeito das provações

O Novo Testamento conhece a provação na forma de contratempos e perseguições pelos quais a fidelidade do homem a Deus é experimentada. Sucumbir na provação significa apostasia total de Cristo (1 Pdr 4, 12, ss.).
Para os cristãos as provações devem ser um motivo de alegria, porque contribuem para o seu aperfeiçoamento espiritual (Tg 1,2-4; 1 Pdr 1,6ss.). Às provações pelo sofrimento pertencem as calamidades universais, eventualmente escatológicas, que hão-de vir sobre a humanidade (Mt 24,21ss; Ap 3,10). Mais outras circunstancias externas podem ocasionar a infidelidade a Deus, particularmente as humilhações do próprio Cristo (Mt 26,41; Lc 22,28), e a fraqueza física (Gl 4, 13ss.) ou as perseguições dos que pregam o Evangelho (1 Tes 3,4ss.).

Homem sujeito das Tentações

Quando os sofrimentos e as perseguições submetem os cristãos a uma prova, o demónio está lá para incitar a apostatar (1 Tes 3,4ss; Peirazwn; 1 Ped 5,8ss.)
Tiago (1, 12-15) observa que a tentação (não enquanto provação, mas enquanto seduz para o pecado) não vem de Deus, pois Deus é inacessível ao pecado, e Ele não leva ninguém ao pecado. A verdadeira causa da sedução é a concupiscência que mora dentro do homem. S. Paulo acrescenta que Deus não permite que a tentação seja acima das forças do fiel (1 Cor 10,13; cf. 2 Ped 2,9). As concupiscências da carne formam uma tentação contínua para toda a espécie de pecado (1 Ped 2,11).

Πειρα no Antigo Testamento

Deus sujeito das provações

Génesis 3,1-19: Deus prova o homem por uma prescrição;

Génesis 22, 1-19: Deus prova Abraão, citação este que é posteriormente recordada pela tradição
judaica (Eclo 44,20; Jdt 8,25-27; 1 Mac 2,52);

Deus prova Job (livro de Job);

A grande maioria dos textos fala numa provação da parte de Deus, que intervém na vida de um homem para experimentar a sua fidelidade (Ex 16,4; 20,20; Dt 8,2; Jz 2,22), nomeadamente na literatura sapiencial, onde a provação por doenças ou outros males se interpreta como o meio pelo qual Deus sujeita o homem a uma prova e, no caso de ele aguentar a prova, revela-se de maneira mais íntima. Este é o novo paradigma da fé de Israel que se revela no tempo de Job e que vence sobre a teoria da retribuição. A provação da parte de Deus torna-se cada vez mais uma educação para a maturidade espiritual, sendo até uma manifestação do amor de Deus.

Homem sujeito das Tentações

Êxodo 17,1-1: o povo tenta contra Deus murmurando contra Ele abertamente
e duvidando da sua providencia. Tentar a Deus equivale a duvidar do seu poder; é, portanto, um sinal de incredulidade (Sab 1,2): Deus é desafiado para manifestar o seu poder. Exigir um sinal para confirmação de uma profecia pode ser interpretado como “tentar” a Deus (Is 7,11ss).

os dois sentidos de πειρα

É preciso distinguir bem os dois sentidos que estes termos podem ter: o de provação, como acontece em S. Tiago 1,2-4 e o de tentação para o pecado em S. Tiago 1, 12-15. No primeiro sentido é Deus quem prova o homem. Neste caso Deus quer purificar o homem das intenções egoístas, pelo que não se pode falar de tentação, a não ser que o homem faça uma escolha pelo pecado. No segundo caso o sujeito do verbo é o demónio, os homens ou a concupiscência má do homem, onde o homem provoca (tenta) a Deus. Assim se pode ver que por um lado pode ser Deus o sujeito e o homem o objecto da provação mas também pode ser o contrário.

πειρα

πειρα - Provação, Tentação

Na carta de S. Tiago este vocábulo aparece 7 vezes

Tg 1,2 - Πᾶσαν χαρὰν ἡγήσασθε, ἀδελφοί μου, ὅταν πειρασμοῖς περιπέσητε ποικίλοις

πειρασμοῖς – dativo, plural, masculino

12 - Μακάριος ἀνὴρ ὃς ὑπομένει πειρασμόν, ὅτι δόκιμος γενόμενος λήμψεται τὸν στέφανον τῆς ζωῆς, ὃν ἐπηγγείλατο τοῖς ἀγαπῶσιν αὐτόν.

πειρασμόν – acusativo, singular, masculino

13 (aparece 4x) - μηδεὶς πειραζόμενος λεγέτω ὅτι Ἀπὸ θεοῦ πειράζομαι: ὁ γὰρ θεὸς ἀπείραστός ἐστιν κακῶν, πειράζει δὲ αὐτὸς οὐδένα.

πειραζόμενος – Particípio presente passivo, nominativo, singular, masculino

πειράζομαι – 1ª pessoa do presente do indicativo passivo, singular

ἀπείραστός – nominativo, singular, masculino

πειράζει – 3ª pessoa do presente indicativo do activo, singular

14 - ἕκαστος δὲ πειράζεται ὑπὸ τῆς ἰδίας ἐπιθυμίας ἐξελκόμενος καὶ δελεαζόμενος:

πειράζω – 3ª pessoa do presente do indicativo do passivo, singular

Na Primeira carta de Pedro este vocábulo aparece 2 vezes

1 Ped 1,6 - ἐν ᾧ ἀγαλλιᾶσθε, ὀλίγον ἄρτι εἰ δέον [ἐστὶν] λυπηθέντες ἐν ποικίλοις πειρασμοῖς,

πειρασμοῖς – dativo, plural, masculino

4,12 - Ἀγαπητοί, μὴ ξενίζεσθε τῇ ἐν ὑμῖν πυρώσει πρὸς πειρασμὸν ὑμῖν γινομένῃ ὡς ξένου ὑμῖν συμβαίνοντος,

πειρασμὸν – acusativo, singular, masculino

O que é a Anatólia?

A Anatólia está situada ao leste do Bósforo, entre o mar Negro e o Mediterrâneo
Anatólia (ou península anatoliana) é uma região do sudoeste da Ásia que corresponde hoje à porção asiática da Turquia. É também frequentemente chamada pelo nome latino de Ásia Menor, que deriva do grego Mikra Ásia.
O nome deriva do grego Aνατολή (Anatolē) ou Aνατολία (Anatolía), que significa "brilho do sol" ou "leste". A forma turca Anadolu deriva da versão grega original e é frequentemente associada com ana ("mãe") por etimologia popular.

Anatólia

A Anatólia é formada por um planalto central alto e por planícies estreitas junto ao litoral. O centro da Anatólia e cada vez mais acidentado à medida que se avança para o leste. No leste encontramos os rios Eufrates e o Tigre, bem como o Lago Van e o Monte Ararat (5.137 m), este o ponto culminante da Turquia.
O planalto anatólio é encerrado por duas cordilheiras, os Montes Tauros ao sul e os Montes Pônticos ao norte. Trata-se de formações geológicas recentes e portanto activas. Cerca de 80% do país encontra-se em zona tectónica muito activa.

23/05/2007

O que aconteceu em Listra?

Em Listra, Paulo curou um homem aleijado. O povo pensou que Paulo e Barnabé fossem os deuses Júpiter e Mercúrio. Por isto, o povo trouxe touros e grinaldas para oferecer um sacrifício, mas Paulo impediu-os. Mais tarde o povo revoltou-se contra Paulo, apedrejando-o e arrastando-o para fora da cidade. (Act 14, 11-13)
Sacrifícios de touros eram comuns na prática da religião Grega. A imagem aqui é de um ritual de sacrifício numa escultura Asiática. Júpiter (Zeus) era o deus supremo entre as divindades gregas. Como Paulo era o orador, foi identificado como Mercúrio (Hermes) e Barnabé com a figura de Júpiter. Na segunda viagem de Paulo, ele retornou para Listra onde encontrou Timóteo, que se tornou um valioso companheiro.

Situação histórica e geográfica da Galácia

Anexada em: 25 A.C.
Imperador romano: César Augusto
Capital: Ancara
Fronteiras (províncias):
Norte: Bitínia

Noroeste: Bitínia
Este: Frígia
Sul: Lícia e Cilícia
Oeste: Capadócia e Ponto
Correspondência actual: Zona central da Anatólia

O cristianismo na província da Galácia

Foi então nesta Galácia ampliada que o apóstolo Paulo e outros missionários cristãos evangelizaram diversas cidades no século I d.C., e nas quais, organizaram comunidades cristãs locais. Paulo escreveu uma epístola às comunidades cristãs da Galácia, a Epístola aos Gálatas.


História da Galácia

A história desta região, a partir do século III a.C., mostra que houve muitas mudanças nas fronteiras e nas afiliações políticas desta região estratégica. Parece que, por volta de 278-277 a.C., um grande número de celtas da Gália ou gauleses, que os gregos chamavam de Galátai (daí o nome desta região), atravessaram o Estreito do Bósforo e se estabeleceram nesta região. Trouxeram consigo suas esposas e seus filhos, e evidentemente evitavam casar-se com o povo já existente ali, perpetuando assim suas características raciais durante séculos. Eles ainda falavam sua língua gálata, de origem celta, no tempo de Jerónimo (347–420 d.C.), o qual descreveu que o gálatas de Ankara e o povo de Trier (localizada no que é hoje a Renânia alemã) falavam uma língua muito semelhante. Seu último rei, Amintas, morreu em 25 a.C., e foi durante o seu reinado como títere do Império Romano, e posteriormente, que a região denominada Galácia foi ampliada para incluir partes da Licaónia, da Pisídia, da Paflagónia, de Ponto e da Frígia.

Parte meridional da província romana da Galácia

Galácia era uma província romana que ocupava a parte central do que agora é conhecido como a Ásia Menor. Era limitada por outras províncias romanas — em parte pela Capadócia, ao Leste, pela Bitínia e Ponto, ao Norte, pela Ásia Menor, ao Oeste, e pela Panfília, ao Sul. Situa-se num planalto entre os Montes Tauro, ao Sul, e os Montes da Paflagônia, ao Norte. Na sua parte norte-central, ficava a cidade de Ancira, agora chamada Ankara, capital da Turquia. E através desta região passava o curso médio do Rio Hális (o actual Kizil Irmak) e a parte superior do Rio Sangarius (Sakarya), que desembocavam no Mar Negro.

O que era Listra?

Listra era uma cidade da Licaónia. Licaónia ou Licónia foi uma província romana, uma região da Ásia Menor em que se falava o idioma local – o licaônico (Actos 14, 6-11).
As fronteiras da Licaônia variaram consideravelmente no decorrer da sua história e não há certeza delas. Basicamente, no período em que a Licaônia figura no registro bíblico, ela ficava na parte meridional da província romana da Galácia, e era limitada pela Pisídia e pela Frígia ao Oeste, pela Capadócia ao Leste, e pela Cilícia ao Sul.
Esta região consiste numa planície sem árvores, com pouca água. Antigamente, porém, era razoavelmente produtiva e oferecia suficientes pastos para um grande número de ovelhas.
O apóstolo Paulo visitou Derbe e Listra (Licaônia), durante a sua primeira e a sua segunda viagem missionária. Talvez parasse ali também na terceira jornada missionária ao viajar "de lugar em lugar através do país da Galácia"(Actos 14, 6. 20. 21; 16,1; 18,23).

Onde fica Listra?

Listra fica a 100 km a nordeste de Derbe, a uns 2 ou 3 dias a pé,
e a 35 kilómetros a sul de Icónio, do que é hoje Konia.

Julgar - Julgamento


“É tempo de começar o Julgamento pela casa de Deus” (1Pe 4,17)

O verbo Julgar surge 3 vezes na 1ª Carta de Pedro e 8 na Carta de Tiago. Se tivermos em conta também os termos Julgamento, juízo e juiz as ocorrências são um pouco mais significativas: 1ª Carta de Pedro (6 ocorrências no total) - Julgar (crinw): 1Pe 1,17; 2,23; 4,5. Julgamento (crisis): 4,17. Juízo(crithrion): 4,6 (2x). Juiz: não tem. Carta de Tiago (11 ocorrências no total) - Julgar (crinw): 2,4; 2,12; 4,11 (3x); 4,12; 5,9. Julgamento (crisis): 3,1. Juízo (crithrion): não tem. Juiz: 4,11; 4,12; 5,9.
Apesar de o número de ocorrências não ser tão significativo comparativamente a outros termos, contudo não se deve deduzir a importância do termo Julgar no interior do texto a partir deste dado quantitativo. Na verdade, este termo e tema está profundamente ligado à realidade escatológica da vinda definitiva do Messias. Esta perspectiva teológica, como pode constatar-se, está presente em grande parte dos escritos do Novo Testamento, sobretudo posteriores aos Evangelhos. Deve igualmente ter-se presente que o tema do julgamento, o qual faz parte da história das religiões e também do Antigo Testamento, tem especial importância e ganha um novo dinamismo, centrado na vinda definitiva de Cristo, ao longo de todo o Novo Testamento.
Por tudo isto, parece-me um termo e um tema que se encontra profundamente presente no horizonte das comunidades cristãs nascentes e que, consequentemente, pauta todo o seu agir e vivência da fé.

22/05/2007

Barjesus em contraposição ao procônsul Sérgio Paulo

Antes da chegada dos missionários a Chipre, convivia na cidade de Pafos “um certo homem, mago de profissão, falso profeta judeu”, chamado Barjesus, com um pagão, o procônsul Sérgio Paulo, homem inteligente” (Act 13,6-7a). Barjesus, introduzido com a típica formula lucana reservado a personagens simbólicas ou representativas (cf. em grego: Lc 2,25; Act 13,6), é apresentado como “filho/discipulo de Jesus”.
Estes dois personagens representam duas posições contrapostas. O primeiro, Barjesus, encarna o falso messianismo do judaísmo crente em Jesus como podemos observar nos nomes atribuídos à personagem: a) “magos”- mago, qualifica negativamente o personagem de sedutor que fascinava pelas suas artes de magia, fazendo assim prodígios que atraíam toda a gente, como Simão Mago em Act 8,9.11; b) “pseudoprofetes”- Falso profeta, significa que pregava um falso messianismo que alienava as pessoas, apresentando Jesus como um Messias vitorioso, sumptuoso; c) “Bariesous”- Barjesus, é apresentado como “filho/seguidor de Jesus”, mas apenas de nome porque na realidade não o é, pois é mago e falso profeta. A razão deste nome é que naquela época o nome de Jesus seria um nome comum entre os judeus.
O segundo, em contraposição ao primeiro, encarna o paganismo atento a escutar a “mensagem de Deus” (13,7b) como podemos verificar pelos os nomes e características: a) Sergius Paulus, são dois nomes latinos. O primeiro gentílico e o segundo patronímico; b) “ o procônsul”, mencionado três vezes de forma determinada (13,7.8.12), é uma personagem que representa, como indica o seu nome, o paganismo romano que nada tem haver com o judaísmo; c) “inteligente” qualifica positivamente o procônsul como um homem determinado ao contrário do mago alienado por práticas religiosas judias.

Érgon na Primeira Carta de S. Pedro

Segundo 1,17, somente subsistirão diante de Deus aqueles fiéis que derem provas evidentes da fé pela obra. Observe-se que S. Pedro utiliza o singular katà tò ékástou érgon (segundo a obra de cada um), onde cada um será julgado segundo a sua obra, ou seja, pelo procurar cumprir no dia a dia a vontade de Deus, que tantas vezes passa pela realização silenciosa das obrigações quotidianas.

Os fiéis não devem, apenas interiormente, dar provas da sua condição de sacerdotes régios, mas devem demonstrá-la também pelo seu exterior (2,12): Seja o seu procedimento tão bom, a ponto de chamarem sobre si as atenções dos outros. É urgente pregar por obras e que estas sejam irradiação da nobreza interior, espiritual; pois todos sabemos que mais importante que as palavras é o testemunho, é a pregação por actos. Aqui, o objectivo último da pregação não está na conquista do pagãos para o cristianismo, mas sim, no aumento da glória e do louvor de Deus no ev eméra episkopes (dia da visitação).

As viagens de Timóteo nos Actos

Timóteo aparece pela primeira vez no capítulo 16 dos Actos dos Apóstolos. Morava em Listra. É na segunda viagem de Paulo que encontramos Timóteo. Paulo ao passar pela segunda vez por esta terra, quis tomar Timóteo para o ministério, mas para isto teve de o circuncidar primeiro para não escandalizar os judeus (ver. 3). Depois da evangelização de Bereia, Timóteo fica nesta cidade, contudo com o propósito de ir ter com Paulo o mais depressa possível (17, 14 ss.). Depois temos notícia de que Timóteo e Silas voltam a reunir-se com Paulo em Corinto, depois de terem estado na Macedónia (18, 5; 2 Cor 1, 19). É depois na terceira viagem de Paulo, que vemos de novo Timóteo na Macedónia (19,22, 20, 3-4).

Quem é Timóteo, segundo as cartas paulinas?

Timóteo é tratado como verdadeiro filho na fé, e muito amado, de Paulo (1 Tim 1,2, 2 Tim 2,2). Seu pai é pagão, sua mãe é Eunice, uma mulher judia, e sua avó materna chama-se Lóide (2 Tim 5; Act 16, 1). Era jovem em idade (1 Tim 4,12). Conhecedor da Sagrada Escritura, desde muito novo (2 Tim 3,15). E homem de fé sem hipocrisia (2 Tim 5). Quanto à sua saúde, tinha frequentes indisposições e problemas de estômago, como nos relata a Primeira carta (5,23).
Podemos sustentar que Timóteo recebeu a investidura Apostólica, segundo os textos que se seguem:
«Não descures o carisma que está em ti, e que te foi dado através de uma profecia, com a imposição das mãos dos presbíteros» (1 Tim 4,14), e «acende o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos» (2 Tim 1,6). Por esta frase damo-nos conta que tinha um carisma, que lhe impuseram as mãos, e se lermos este dado «através de uma profecia» à luz de Act 13,2-3: «”disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.” Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir» podemos testemunhar que Timóteo recebeu a investidura Apostólica. Para mais que era colaborador directo de Paulo (Film 1,1) servidor de Cristo Jesus (1 Tim 4,6), como Paulo (Fil. 1,1) – título que Paulo usa para si (Rm 1,1). Por diversas vezes são-lhe dirigidas algumas palavras, a começar por estas cartas, para se aplicar à leitura, à exortação, à instrução e à proclamação da Palavra a tempo e a fora de tempo, a propósito e a despropósito (1 Tim 4,13; 2 Tim 4, 2). «Dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério» (2 Tim 4,5). Este ministério foi recebido com uma bela profissão de fé na vida eterna, à qual foi chamado, na presença de muitas testemunhas.» (cf. 1 Tim 6,12).

Quem é Timóteo, segundo os Actos dos Apóstolos (Act 16, 1- 3)?

Timóteo era natural de Listra, filho de uma judia crente e de pai grego, que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. E fora circuncidado por Paulo, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego.

Timóteo ...

... aquele honra a Deus

Nome próprio de dois personagens da época dos Macabeus (1 Mac 5,6; 2 Mac 8,30) e do conhecido companheiro de S. Paulo.
Timóteo nasceu em Listra como filho de um pai gentio e uma mãe judia, Eunice. O testemunho da comunidade cristã de Listra foi para S. Paulo motivo de levá-lo consigo nas suas viagens missionárias. Acompanhou S. Paulo na segunda e terceira viagens (Act 17, 14ss; 18,5; 19,22; 20,4), sendo, porém, algumas vezes enviado com missão especial a Tessalónica (1 Tes 3,2.6), à Macedónia (Act 19,22) e a Corinto (1 Cor 4,17; 16,10; 2 Cor 1,19).
Compartilhou o primeiro cativeiro de S. Paulo (cf. Col 1,1; Fil 1,1; Flm 1; cf. Flp 2,19; Heb 13,23 onde é anunciada a sua libertação). Mais tarde foi companheiro de S. Paulo, mas teve de ficar em Éfeso (1 Tim 1,3). Durante o segundo cativeiro de S. Paulo, o apóstolo mandou-o vir de Roma (2 Tim 4,21). A tradição venera S. Timóteo como bispo de Éfeso.

Lapidando a Pedra...

O segundo capítulo da primeira carta de Pedro é o lugar do Novo Testamento onde a palavra pedra aparece mais frequentemente. Ali, temos um total de sete ocorrências em apenas quatro versículos. Estas são as únicas referências à palavra Pedra na primeira de Pedro.
Ao estudarmos esta ocorrência tendo por base o texto grego constatamos que o autor joga com três termos quando se refere à pedra:
Assim, em 1Pe 2, 4.5.6.7.8. temos o termo litos. Já em 1Pe 2,7 temos o termo kefalen e em 1Pe 2,8 o termo petra.

Desta primeira fase da lapidação da pedra na 1Pedro podemos concluir que o autor tem em vista uma estratégia que coloca em jogo o significado bíblico destes três termos, pois cada um deles tem a si associado uma enorme memória bíblica que no permite ver que mesmo quando ele utiliza o litos não se refere a pedra não sentido material mas sim a pedra em sentido metafórico.

O campo semântico do Bem em Tiago?

Na carta de Tiago não encontramos este campo semântico do bem pouco desenvolvido aparecendo apenas como καλῶς ποιέω, ou seja, fazer bem mas não com o vocábulo utilizado na carta de Pedro. Apenas encontramos três vezes a expressão de bem explicitamente e não através de outras palavras do seu campo semântico como na primeira carta de Pedro.
As três vezes em que esta expressão aparece pretende exortar os cristãos, primeiro a cumprir conforme a escritura a lei real de amar o próximo como a si mesmo, pois isso é fazer o bem. Segundo, acreditar que há um só Deus não caindo na idolatria. Por último, há uma reivindicação pelo bem, pois se alguém sabe que deve fazer bem e não o pratica, comete pecado.
Portanto, ao comparar-mos estas duas cartas damo-nos conta de que estamos em campos diferentes. A carta de Tiago parece muito mais moral e ética dando pistas concretas na prática do bem para que a fé não desfalecesse. Equivale-se o bem à prática do amor, ao acreditar no único Deus e em fazer o bem porque se sabe se isso não acontecer comete pecado. Na primeira de Pedro toma-se o bem por si mesmo sem especificar práticas concretas mas generalizando exortando à prática do bem em contraposição ao mal.

20/05/2007

ALEGRIA...desde a Páscoa até hoje!


A palavra Alegria é de facto fundamental na edificação do cristianismo das origens, o cristianismo pós-pascal.
Foi assim no princípio como ainda hoje ouvimos: “enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria” (Lc 24, 51-53).
Foi assim na Patrística…São Leão Magno afirma também que os Santos Apóstolos “receberam da ascensão do Senhor um progresso tão grande que tudo o que antes era motivo de temor se converteu em motivo de alegria” (Sermão 2 da Ascensão). Vai muito no seguimento do sentido de alegria indicado na I Carta de Pedro, alegria que não teme qualquer adversidade, porque sabe que configurando-se com Cristo nos sofrimentos também se configurará com Ele na Glória. Mas esta fortaleza da fé, a alegria, têm origem em Deus, são fruto do Espírito Santo, que Jesus envia na sua partida para o Pai, na sua ascensão. É a alegria em sentido divino.
E é assim hoje…é interessante ver como ao longo do tempo Pascal a palavra Alegria é tão utilizada em antífonas, salmos, hinos, etc. É um sentimento verdadeiramente Pascal, verdadeiramente cristão. Aliás, é um dos frutos do Espírito Santo (cf. Gal 5, 22)!
…Alegrai-vos!
Imagem: Ascensão do Senhor, ícone contemporâneo, segundo um modelo do Saltério de Ingeburge, séc. XII.