05/05/2007

Vida – II

Pedro
(1Pt 2,11-4,11) o autor dá as indicações e as exortações para a vida cristã exemplar nas várias situações:
2,11-17: deveres para com os que não crêem e para com as autoridades;
2,18-25: deveres dos que prestam serviços aos outros;
3, 1-7: deveres dos casados;
3, 8-12: o amor fraterno;
3,13-22: praticar o bem; imitar a longanimidade de Cristo;
4,1-6: morrer para o pecado e vida no Espírito;
4,7-11: o amor recíproco.

Tiago
1,27: os verdadeiros valores da vida não estão nas riquezas transitórias, mas sobretudo no saber repartir os próprios bens com os pobres e necessitados.
A carta de Tiago nos mostra um cristianismo muito concreto e prático. A fé deve realizar-se na vida, sobretudo no amor do próximo e particularmente no empenho para com os pobres.


A Palavra escolhida

A palavra que escolhi da Primeira carta de São Pedro e da carta de São Tiago é a palavra .
Em 1 Ped, a palavra Fé aparece 9 vezes: 1,5; 1,7; 1, 9; 1, 21; 1,22; 2,17; 3,1; 3,1; 3,16; 5,9. Na carta de SãoTiago, esta palavra aparece 13 vezes: 1,3; 1,6; 2,1; 2,5; 2,14; 2,17; 2,18; 2,20; 2,21; 2,22; 2,23; 2,26; 5,15.

Vida

Pedro:
(I Pedro 3,2)
"ao observarem vossa vida casta e reservada".
Na vivência cristã.

(I Pedro 3,7)
"Do mesmo modo vós, ó maridos, comportai-vos sabiamente no vosso convívio com as vossas mulheres, pois são de um sexo mais fraco. Porquanto elas são herdeiras, com o mesmo direito que vós outros, da graça que dá a vida. Tratai-as com todo respeito para que nada se oponha às vossas orações."
Vida que vem da graça de Deus.

(I Pedro 3,10)
"Com efeito, quem quiser amar a vida e ver dias felizes, refreie sua língua do mal e seus lábios de palavras enganadoras;"
A vida do homem na sua existência.


Tiago:
(Tiago 1,12)
"Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam".
Vida como plenitude.


(Tiago 3,6)
"Também a língua é um fogo, um mundo de iniqüidade. A língua está entre os nossos membros e contamina todo o corpo; e sendo inflamada pelo inferno, incendeia o curso da nossa vida."
A vida do homem na sua existência, condicionada pelo seu comportamento moral.


(Tiago 4,14)
"E, entretanto, não sabeis o que acontecerá amanhã! Pois que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um instante e depois se desvanece."
A vida do homem na sua existência, na constatação de que a vida do homem é um nada de tempo.



04/05/2007

Eunuco implica exclusão?

Será que aqueles que os excluídos do Senhor têm lugar nesta nova assembleia que Cristo veio trazer? Segundo a lei «nem o castrado nem o que for mutilado sexualmente serão admitidos na assembleia do Senhor.», mas com este relato tudo ganha uma nova cor. Podemos dizer que este relato já está preanunciado noutros relatos do Antigo Testamento que indicam o louvor e culto do Deus de Jacob pelos povos estrangeiros, sendo a Etiópia um deles. «Naquele tempo, esse povo esbelto de pele bronzeada, esse povo poderoso e longínquo, essa nação temida que espezinha os inimigos, cuja terra é sulcada pelos canais, há-de trazer os seus dons ao Senhor do universo, ao lugar onde está o seu nome, no monte de Sião» (Is 18,7). Neste excerto encontramos dois pormenores interessantes: os da pele bronzeada que vem corroborar o penúltimo post que escrevi; e o segundo será a oferta dos seus dons, ou seja, o culto ao Senhor do Universo oferecendo presentes. Do livro de Sofonias encontramos esta citação: «do outro lado dos rios da Etiópia, os meus adoradores dispersos virão trazer-me ofertas.» (Sf 3,10), mostrando mais uma vez as ofertas trazidas pelos adoradores, não de Jerusalém mas sim da Etiópia. «Do Egipto chegarão ricos presentes e a Etiópia estenderá, veloz, as mãos para Deus» (Sl 68,32). Incluirei Raab e Babilónia na lista dos que me conhecem; a Filisteia, Tiro e a Etiópia, uns e outros ali nasceram. Mas de Sião há-de dizer-se: «Todos lá nasceram; o próprio Altíssimo a fortaleceu.» O Senhor escreverá no registo dos povos, anotando: «Este nasceu em Sião.» E eles dirão, cantando e dançando: «A minha única fonte está em ti.»(Sl 87,4-7). Portanto, estas citações são como que profecias do episódio deste eunuco, ministro da Rainha Candace da Etiópia, que traz presentes e tesouros para oferecer a Deus em Jerusalém. Atrever-me-ia a dizer que este relato dos Actos completa e inaugura algo de novo. Completa estas profecias, mas nas profecias não nos são apresentados os oferentes que segundo a lei não podiam ser castrados. Mas o texto de Actos vem cumprir essas profecias quebrando, mais uma vez, as fronteiras da lei, colocando um etíope e para não bastar, um eunuco. Daqui retiro que em Cristo todos sem excepção são chamados à conversão, ao Baptismo. Podemos dizer que a missão Ad Gentes de Paulo e dos outros discipulos já aqui se encontra iniciada.

Para partilhar com todos uma belíssima pintura da vida de Cristo

HAL9000, um grupo italiano especializado em restauro e preservação de obras de arte, colocou na Net uma gigantesca imagem de 8,6gigapixels de um fresco italiano de 1513, existente na Igreja de Santa Maria delleGrazie, em Varalli Sesia, na Itália, da autoria de Gaudenzio Ferrarri, um dos grandes mestres do Renascimento. O grupo afirma ser a maior fotografia dealta resolução do mundo. O resultado final é surpreendente. A possibilidade de ampliar a imagem até ao mínimo pormenor, leva o visitante a conhecer a obra de arte com um detalhe que, de outra forma, seria impossível. O Requiem de Mozart que acompanha a visualização da imagem torna a experiência ainda mais atraente.http://haltadefinizione.deagostini.it/<http://haltadefinizione.deagostini.it/>

03/05/2007

Negociante de púrpura: Lídia (Act 16, 11-15)

Filipos, cidade principal da Macedônia, e também colónia romana, será o lugar de encontro com a vida nova do Cristo ressuscitado, de Lidia -vendedora de púrpura- e de toda a sua família. com ela começarei o meu percurso para ver qual é o lugar que ela ocupa na composição dos Actos dos Apóstolos. Através do relato dos Actos, sabe-se que em Filipos não havia sinagoga, reuniam-se perto do rio, fora da porta, para as abluções rituais e orações.
Paulo e os seus colaboradores para lá se dirigem, conversam com um grupo de mulheres ali reunidas, das quais a uma delas, Lídia, o Senhor lhe abrirá o coração para escutar a mensagem de Paulo. Lídia de Tiatira e adoradora de Deus é baptizada e também a sua família e a novidade da sua conversão e a dos seus, é o acolhimento e a hospitalidade que ela oferece a Paulo juntamente com os seus colaboradores. Esta é a novidade do Cristianismo, que num primeiro momento já nos mostra Lídia. É que após do acolhimento sincero e recto do anúncio de Cristo ressuscitado, vem a gratidão e o amor para com os anuncidores.

Sereis minhas testemunhas... até aos confins da terra

Muitos autores, referem a autoria dos Actos dos Apóstolos a Lucas, companheiro de viagem de Paulo e autor do terceiro evangelho.
Este livro, tem como objectivo principal, narrar a história das origens do cristianismo, a sua expanção, partindo do acontecimento experiencial Pós-Pascal da glorificação de Cristo por parte dos discípulos do Senhor. O livro inicia com um Prólogo, onde põe de manifesto, o acontecimento da Ascensão. A seguir, divide-se em cinco partes fundamentais: 1) a Igreja de Jerusalém, onde são-nos apresentados os discípulos e o Pentecostes como motor que vai impulsionar toda a missão; 2) as primeiras missões, onde aparece o martirio de Estevão e a conversão de Paulo como eixos centrais dos Actos; 3) missão de Paulo e Barnabé, instrumentos do Espírito de Cristo para levar a mensagem da palavra do Evangelho aos gentios; 4) as missões de Paulo, realizada sem a presença de Barnabé, mas em companhia dos seus colaboradores; Paulo prisioneiro de Cristo, um momento crucial, em que ele é levado a Roma para ser julgado pelo imperador Cesar. Ali anuncia o Reino de Deus e de Jesus Cristo com toda valentia. O seu fundamento é a fé em Cristo ressuscitado, base do Kerigma apostólico, o qual prevalece no testemunho dos apóstolos.
É um livro cativante que sem ter uma continuidade, conta factos experienciais da presença do ressuscitado na comunidade cristã primitiva.

02/05/2007

QUEM É O PERSEGUIDOR CONVERTIDO?

Conversão – Vocação de Paulo

Este acontecimento representa um ponto chave na História da Igreja, pelas consequências que irá ter. A interpretação que Paulo e Lucas fazem do acontecimento não é a mesma. Lucas liga a conversão de Paulo à oração de Estêvão. O Caminho de Damasco é referido três vezes nos Actos: 9,1-19; 22,3-21; 26,9-20 (ver Gl 1,1-16; 1 Cor 15,9).
Testemunho de Paulo: Paulo nunca pretendeu fazer uma autobiografia. Interessava-lhe só anunciar Jesus Cristo. Por isso, apresenta-se como um apóstolo = enviado. Enviado de Cristo e da Igreja. Estas são as suas credenciais. Por isso, assume a mesma categoria dos que andaram com Jesus, pois também ele encontrou Jesus. Por isso, afirma em 1 Cor 15,6-11 a sua vocação em termos de aparição-vocação profética, à maneira do AT, sem qualquer narrativa histórica, como faz Lucas nos Actos (Jr 1,4-11; Ex 3,10...). O género literário da sua vocação, tal como é apresentado pelo próprio Paulo, assemelha-se a uma epifania ou a um relato de vocação, como temos muitos na Bíblia: Evangelho da Infância de Lc, epifania dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35); narrativas de aparições do Ressuscitado (Lc 24,36-49); narrativa da Ascensão (Lc 24,50-53; Act 1,4-11; ver a solenidade com que Paulo apresenta o seu apostolado, em Rm 1,1-7).
O texto acima referido de 1Cor 15,6-11 é importante porque Paulo dá-se a mesma importância, pela Aparição, que aos demais Apóstolos; e tal aparição está em função do apostolado. Não é um privilégio sem mais, mas uma convocação para a missão (1Cor 9,1-2). Paulo viu o Senhor, mas não diz como O viu. No entanto, esta visão é o fundamento, causa e legitimação da sua missão de Apóstolo. Paulo não refere os pormenores da sua vocação para a missão por fino pudor (2 Cor 2,1), mas diz que essa visão é o fundamento do seu Evangelho, o da Fé contra o da Lei (Gl 1,6-7.11; 2,14; ver p.15).







30/04/2007

Gamaliel (parte III)

Entre outras questões pertinentes, partilho duas delas: 1) Qual a razão que levou Gamaliel a tomar este discurso? 2) Se Paulo foi seu discípulo, em que aspectos da sua evangelização se podem notar as influências do seu mestre? Sem dúvida, duas questões bastante interessantes que merecem um tratamento bem mais exaustivo do que aquele que posteriormente e muito sucintamente farei.
Quanto à primeira pergunta, são várias as respostas propostas: a) Pretendeu, com suas palavras, opor-se aos Saduceus e levar ao fracasso os seus projectos; b) Por questões políticas, tentado controlar o Sinédrio face ao povo e aos romanos; c) Por um simples sentimento de rectidão natural; d) Ou, finalmente, por uma secreta inclinação para a nova doutrina. Quanto a esta última hipótese, embora não seja possível chegar a uma conclusão definitiva, desde bem cedo, a tradição da Igreja defendeu que Gamaliel abraçou a fé cristã e que continuou como membro do Sinédrio com o objectivo de ajudar secretamente os seus companheiros cristãos (Confissões de Clemente, I, 65-66). De acordo com Photius, foi baptizado por S. Pedro e S. João, juntamente com o seu filho e com Nicodemos. Acredita-se ainda que o seu corpo foi miraculosamente descoberto no século V e que se encontra em Pisa, Itália. Finalmente, como santo cristão, celebra-se o seu dia a 3 de Agosto, tal como Nicodemos. Contudo, há também a posição judaica que atesta que Gamaliel morreu como um bom judeu: “Quando ele morreu, a honra da Torah cessou e a pureza e piedade extinguiram-se” (Michná, Sota, IX, 16).
No que respeita à segunda questão, penso que é a mais interessante de todas: procurar descortinar no trabalho apostólico de S. Paulo alguns elementos ou influências adquiridas enquanto discípulo de Gamaliel. A este respeito deve referir-se que não é de todo possível determinar de forma segura o carácter teológico ou prático dos ensinamento do mestre de S. Paulo e, por conseguinte, também não é de todo fácil determinar quais as supostas influências do mesmo no apostolado de S. Paulo. Deste modo, seria necessário um trabalho mais apurado para responder a esta questão. Aqui, deixo apenas algumas decisões jurídicas que a Michná atribui a Gamaliel. São elas: A) Permitiu o segundo casamento a uma mulher, após confirmada a morte do seu marido, sendo necessária apenas uma testemunha (Tratado Yebamoth, XVI, 7); B) Modificou as condições da anulação do pedido de divórcio, não permitindo que ele se conceda sem o conhecimento da mulher e exige que se inscrevam no acto os nomes do homem e da mulher com todos os seus sobrenomes (Tratado Guitin, IV, 2). C) Afirma que a levedura profana caída na massa junto com a levedura de oblação, não torna a massa proibitiva se for suficiente para a fermentação (Tratado Orla, II, 2 – quem sabe se esta última alínea não seria um bom princípio de trabalho para explicar o apostolado de S. Paulo aos gentios e não aos judeus, dado o esforço de Gamaliel em levar os judeus a abrirem-se aos gentios!) Terminando, trata-se, sem dúvida, de um personagem muito interessante e que merece um estudo mais detalhado e profundo.