09/03/2007

Depois de Jesus

Depois da Ascensão do Senhor, os homens da Galileia não se mantêm muito tempo “com os olhos fixos no céu”, mas voltam para Jerusalém, onde, eleito Matias, os Doze, reunidos, recebem o Espírito Santo. Pregando e fazendo curas, Pedro e os outros apóstolos convertem judeus de muitas etnias e línguas. Estes novos crentes partilham a vida numa comunidade exemplar, “como se tivessem uma só alma”. A variedade étnica dos seguidores da “Via” vai alargar-se mediante a dispersão provocada pela perseguição que se segue à morte de Estêvão. No seu discurso, Estêvão refere acontecimentos e personagens das grandes tradições da história de Israel que, na perspectiva do narrador, conduzem aos acontecimentos presentes. Em casa de Cornélio, para choque de Pedro, o Espírito Santo é derramado sobre pagãos, o que leva ao seu baptismo. Daí em diante, a mesma história repete-se em cidades cosmopolitas do Mediterrâneo oriental, e, já através das viagens de missionação de Paulo, a muitos portos e cidades, onde nas casas de família o Apóstolo e seus companheiros recebem hospitalidade, se bem que continuando a frequentar o templo e a sinagoga até à ruptura definitiva com os judeus. O espaço geográfico da evangelização é impressionante: da Etiópia e Cirenaica a Roma, mas o espaço por excelência é o que vai de Jerusalém a Roma. Os acontecimentos relacionados com a actividade de Paulo ocupam os capítulos 13 a 28, e o narrador confirma todas as suas competências, tanto literárias e retóricas, nomeadamente nos discursos de defesa de Paulo, como também revela conhecimento de técnicas de navegação e de ofícios e tem artes de apresentar Jesus e seus seguidores como “letrados”, mas numa educação enraizada na cultura judaica. É o caso de Paulo, “instruído aos pés de Gamaliel”, cuja sabedoria é reconhecida por Festo. (A tal respeito, Pedro e João são pouco considerados diante do Sinédrio.) As autoridades romanas são complacentes em diversas situações, e no epílogo fica bem claro que Paulo pode anunciar o Reino de Deus e falar do Senhor Jesus Cristo porque tal lhe consente a imparcialidade da justiça romana.

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