08/03/2007

Infidelidade em Acto(s)

Como comprimir num palmo de texto as palavras dum maior (não sobretudo no detalhe ou extensão, mas na vitalidade que o plasma) senão titulando eventos, a ver, no cuidado de os nomear, se tal infidelidade não atraiçoa significativamente a herança das letras?
O livro dos “Actos dos Apóstolos” abre retomando o relato das aparições de Jesus, culminadas na ascensão (onde se prenuncia a sua derradeira vinda).
À vista disto, a comunidade crente (na qual os apóstolos se incluíam), assim entusiasmada, procurava estruturar-se (começando, no que respeitava aos doze, pela substituição de Judas por Matias). Nisto, quando o dia de Pentecostes se consumava, viu--se envolta no calor do Sopro de Deus, o qual, vibrando-lhe no coração como na língua, a despertou para o fogo do arrojo da comunicação, ao ponto de Pedro, qual porta-voz, gritar, inflamado, à multidão, exortando-a à conversão.
A comunidade crescia (em número como em gestos de comunhão fraterna), assistindo, surpresa, a certos instantes terapêuticos às mãos de Pedro e João, permanecendo firme não obstante as perseguições movidas pelo Sinédrio. Com efeito, a generosidade e confiança dos seus conseguia-lhes a libertação dos múltiplos obstáculos (como seja a prisão, pelo Anjo do Senhor).
Nela estalava o debate acerca da integração da diversidade na unidade (helenistas e hebreus), na esteira do desafio missionário por que vários membros (sete) são instituídos (dos quais se destaca Estêvão, sobretudo no momento último da sua pregação testemunhal).
Entretanto, enquanto Saulo (ou Paulo), até então zeloso defensor da tradição judaica, sofria a visão do brilho vociferante do Cristo e integrava a comunidade, Pedro, via-se impelido a entrar no mundo da gentilidade (visitando Cornélio, centurião romano). Um e outro momentos enquadravam-se na discussão acerca das fronteiras da Igreja, decisivamente encetada na reunião de Jerusalém (partindo dos sucessos da missionação de Paulo e Barnabé).
Desta feita, a vida da comunidade conhece em Paulo um enérgico impulsionador (tanto no palmilhar da terra – atravessando a Ásia Menor, indo a Filipos, a Tessalónica, a Beréia, Corinto, Éfeso, Antioquia, …– como no burilar das palavras, como quem procura avizinhar-se dos demais – como em Atenas, no Areópago), enfrentando perseguições várias, por entre as gestas miraculosas, culminando, após conturbado processo iniciado pelos judeus em Jerusalém, na sua prisão e (dada a sua condição de cidadão romano) deportação para Roma, interrompida pelo naufrágio (que o levou provisoriamente a Malta onde operou novas curas). Uma vez chegado a Roma (estando em prisão domiciliária) voltou dar testemunho do Reino junto dos judeus, dizendo-o também acessível aos gentios.

Um comentário:

jtm disse...

O Pessoa é que dizia que sem sintaxe não há emoção. No teu texto há das duas, em intransigente medida.