13/04/2007

Breve apresentação de João

1, 13: Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente. Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago.

Contexto


O grupo (do qual fazem parte algumas mulheres – cf. 1,14 –) reúne-se em Jerusalém após a visão de Jesus ascendido.
O regresso de Cristo aos céus como que os convoca para o regresso ao espaço onde «se encontravam habitualmente», qual recanto da memória onde os medos (da perseguição, da dúvida, da desorientação, da insanidade…) são superados.

Elementos caracterizadores

João integra o grupo dos videntes surpreendidos pela crise da gravidade à vista da leveza de Cristo. É nomeado em segundo lugar [o que indiciará, paradoxalmente, a sua relevância mas ainda a sua discrição].

3, 1: Pedro e João subiam ao templo, para a oração das três horas da tarde.
3, 3: Ao ver Pedro e João entrarem no templo, pediu-lhes esmola.
3, 4: Pedro, juntamente com João, olhando-o fixamente, disse-lhe: «Olha para nós.»
3, 11: E, como ele não deixasse Pedro e João, todo o povo, cheio de assombro, se juntou a eles sob o chamado pórtico de Salomão.

Contexto


A subida ao templo evidencia a convivência entre o judaísmo e o cristianismo nascente.
Porventura a diferenciação brotará, precisamente, da intuição do alcance do sacrifício vespertino da hora nona (cf. Ex 29, 39-42; Lc 1, 8-10; Eclo 50, 5,21).

Elementos caracterizadores

João acompanha Pedro, seguindo com ele até ao templo para a oração vespertina (pois que se mantinham afectos ao húmus tradicional da fé).
Nisto, foram vistos por um aleijado de nascença que os procurou (aparentemente menos por reconhecer neles uma qualquer diferença específica e mais por serem dois possíveis benfeitores dentre a mó que ali acorria) a ver se deles recebia uma esmola. Ao invés disso, recebe um desconcertante convite.
João surge quase como um actor especular, agente da conformidade. O que faz, fá-lo secundando Pedro, nos gestos como nas palavras, ao ponto de se confundir com ele.

4, 13: Ao verem o desassombro de Pedro e de João e percebendo que eram homens iletrados e plebeus, ficaram espantados. Reconheciam-nos por terem andado com Jesus,

Contexto

Como eles inflamassem as gentes dum espanto insurrecto, as autoridades judaicas encarceraram-nos com o propósito de os interrogar.
Adivinha-se, aqui, o desconforto presente entre o judaísmo tradicional e aquela impúbere facção.

Elementos caracterizadores

Pedro e João pregam ousadamente, não obstante a sua condição plebeia (e iletrada).
A eloquência por que se fazem notados parece resultar da convivência com Jesus.

4, 19: Mas Pedro e João retorquiram: «Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus».

Com efeito, a obediência a Deus parece ser bem eco daquele convívio, enquanto acontecimento existencial cimeiro, prioritário.
A evocação deste argumento (retomado em 5,29 e 5,38s) parece traduzir uma preocupação radical no seio do debate entre os discípulos de Jesus e as autoridades judaicas: num contexto turbulento, como obedecer a Deus? Mais: quais as instâncias que podem garantir um caminho autêntico (ou seja, obediencial)?
Esta interrogação, profundamente judaica (i. é, inscrita nos meandros da memória identitária de Israel), situa os discípulos de Jesus na esteira desse mesmo ambiente teológico. De facto, para eles é claro que o seguimento de Jesus corresponde ao autêntico cumprimento da vontade de Deus.

8, 14: Quando os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, tiveram conhecimento de que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João.

Contexto

Estalada a perseguição [contra os helenistas?], muitos fugiram de Jerusalém.
Filipe, que também abandonara Jerusalém, chegou a uma povoação da Samaria, começando, aí, a anunciar o Evangelho.

Elementos caracterizadores

João é enviado (a par de Pedro) pelos Apóstolos sitos em Jerusalém para a Samaria.

8, 17: Pedro e João iam, então, impondo as mãos sobre eles, e recebiam o Espírito Santo.

O motivo da sua presença é, eventualmente, desconcertante. Com efeito, aqueles samaritanos «somente haviam sido baptizados em nome do Senhor Jesus» (8,16).
A eficácia pneumática do gesto de Pedro e João não parece, contudo, residir neles mesmos (já que Filipe, sendo um dos Sete, fora também ministro do espanto – cf. 8, 4-8 –), mas sobretudo no alcance comunional do gesto que promovem (cf. 15, 8-9; 19, 3-7).
Se até aí Jerusalém e Samaria estavam de costas voltadas, agora, e por meio daqueles (mandatados por Jerusalém), os laços eram restabelecidos, ficando uns e outros envolvidos por essa mesma respiração que mana daquele Nome.

12, 2: Mandou matar à espada Tiago, irmão de João,

Do elenco que apresentamos resultam, pelo menos, duas grandes questões: 1. por que surge João, uma das figuras cimeiras dos Onze (cf. 1, 13), descrito sempre de forma secundária?; 2. por que lhe perdemos, subitamente, o rasto?

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