16/05/2007

Sofrei a prova (peirasmós) e sede como os servos da casa (oikétai)

A primeira Carta de Pedro tem como finalidade consolar e exortar (contém 51 exortações no imperativo!) as comunidades fraternas cristãs da Ásia Menor que vivem uma situação de tensão e conflito tanto vindos do exterior como no seu interior. O sofrimento prolongado ameaça a coesão social, mas tanto a Carta de Tiago (1, 2-3) como a primeira de Pedro (1, 6; 4, 13) apelam para a aceitação do sofrimento com alegria. Estes cristãos estão a construir a sua identidade a partir da experiência, não têm um modelo feito. Mas este fazer-se cristão no aqui e agora passa por entender positivamente o sofrimento injusto que advém da fidelidade ao Evangelho e da obediência à vontade de Deus. Também são comparáveis os conteúdos das duas cartas no que se refere à submissão às autoridades. Na primeira Carta de Pedro, 2, 18-25, é apresentado como modelo o servo, ou escravo, doméstico (oiketés), que surge em primeiro lugar numa tábua de deveres domésticos (Haustafel). A submissão (upotasso) tem a ver com a ordem da "casa ou família de Deus", e a motivação para a sua ordem interna é a obediência à vontade de Deus, que é o Pater familias. A submissão à vontade de Deus, especialmente em situações adversas, supõe solidariedade com os sofrimentos de Cristo. Em 2, 16, fica claro que os homens livres cristãos que acatam as leis civis fazem-no como "servos de Deus". A condição de membros da "casa de Deus", que não se rege pelo Direito Romano ou leis locais, introduz na vida dos crentes uma espécie de desenraizamento, de afastamento crítico, que lhes é próprio.

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