29/05/2007

Receberá a coroa da vida

Tudo o que é fruto de trabalho penoso, tudo o que é motivo de glória e alegria ou um dom especial, pode ser chamado uma coroa. Os netos e a experiência da vida são a coroa dos mais velhos (Prov 17,6; Eclo 25,6), os cabelos brancos são uma coroa honrosa para os justos (Prov 16,31), uma mulher perfeita o é para o seu marido (Prov 12,4), as instruções do pai são coroa para o seu filho (Prov 1,9).

Os benefícios de Deus à criação são como uma coroa: coroou o homem de honra e glória (Sl 8,6; 103,4), o amo com a sua generosidade (Sl 65,12). A nova Jerusalém é como uma coroa brilhante nas mãos de deus (Is 62,3). O próprio Deus é como uma coroa honrosa para o “Resto de Israel” (Is 28,5). S. Paulo chama à sua comunidade “ minha coroa” (1 Tes 2,9; Fil 4,1).

A coroa é sinal do Amor que Deus tem pelo seu Povo, da Aliança, que Deus estabeleceu com ele, como nos prova Ezequiel 16,8b. 12: «Estendi sobre ti a ponta do meu manto e cobri a tua nudez. Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança - oráculo do Senhor Deus. E ficaste a ser minha… Coloquei-te um anel no nariz, brincos nas orelhas e uma coroa de ouro na cabeça.»

A coroa é a glória, e se «a glória de Deus é o homem vivo», como diz Santo Ireneu, assim, a glória é a vida. A mesma conclusão podemos tirar quando Job diz que foi despojado da sua glória: «Despojou-me da minha glória, e tirou-me a coroa da cabeça.» (Job 19,9)

É da coroa da vida que consiste a vida eterna, como nos diz Tiago 1,12. «O homem que resiste à tentação, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam.» (Tg 1,12). Esta citação de Tiago assemelha-se a uma citação de Pr 19,5: «Aquele que se regozija com a iniquidade será condenado, mas quem resiste aos prazeres coroa a sua vida.» «E, quando o supremo Pastor se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória.» (1 Ped 5,4).

S. Paulo apresenta-nos esta coroa, da vida eterna, como prémio a alcançar, já que fomos alcançados por Cristo: «Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível.» (1 Cor 9,25); «Tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo…Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos. Corro, para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não me julgo como se já o tivesse alcançado. Mas uma coisa faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direcção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus.» (Fil. 3, 7.10-14)

Nos Evangelhos a palavra coroa só ocorre na história da Paixão; é a coroa de espinhos (Mt 27,29; Mc 15,17; Jo 19,2.5). Na intenção dos soldados foi sem duvida um escárnio, mas os evangelistas, certamente S. João, viram neste gesto uma profecia da verdadeira realiza de Jesus (como se pode confirmar na inscrição da cruz).

Nenhum comentário: