04/06/2007

'KOSMOS' NA 1ª CARTA DE PEDRO

A palavra ‘kosmos’ aparece três vezes em I Pedro. Em dois casos (1, 20 e 5, 9) assume o sentido de mundo e num outro (3, 3) o sentido de ‘adorno’. Se na carta de Tiago o campo semântico definido pelo termo é negativo, na primeira de Pedro ele assume um sentido mais amplo, e não necessariamente contrário à ordem divina, onde se adere ao bem ou ao mal (o próprio facto de ‘kosmos’ surgir com o sentido de adorno em 3,3 expressa esta dicotomia; o sentido da palavra ‘kosmos’ em Pedro aproxima-se daquele de ‘géh’, isto é terra, em Tg 5, 12). É neste mundo que os cristãos são chamados a rejeitarem a sua ignorância anterior (1, 14) e a serem santos como Deus é Santo (1, 15-16), participando, como pedras vivas, na construção da «casa espiritual» que tem Jesus Cristo como «pedra angular» (2, 4-8). Daí que seja exigido aos eleitos de Deus a vivência da santidade em todas as dimensões do mundo, não só a nível cultual, mas no próprio quotidiano – em 2, 13-3, 7 o autor da carta apresenta um código doméstico, que é expressão deste facto. O principal elemento da vida cristã no mundo passa pela aceitação da remissão dada por Jesus Cristo, pela obediência a este (1, 2). E o sofrimento de cada fiel deve ser configurado ao sofrimento de Cristo (5, 1), na lembrança de que este mundo é temporário e que outro tempo virá, logo o sofrimento acabará (5, 10). Quer isto dizer que o mundo, ainda que cenário de opressão e sofrimento, é acima de tudo espaço de libertação por Jesus Cristo.

Um comentário:

joshua disse...

É necessário assumir rupturas dolorosas com todas as formas auto-legitimantes de opressão e tutela das mentes. A Verdade nos fará livres: livres do tempo e no tempo, pacientes, capazes de relativizar todas as coisas menos a santa dignidade de seres humanos e filhos de Deus.